Milagres, mesmo no Brasil atual, acontecem.
O senhor, o próximo presidente, pode ser o quer voltar, o que quer ficar ou um dos que vão pela primeira vez. Tanto faz, o que tenho a dizer é o mesmo para todos: apontar que X é corrupto, Y é incompetente, Z é comunista ou fascista, não o fará um bom governante. A gente está cansado de saber. O povo pode até ser ignorante, mas burro não é. Basta dar uma olhada ao redor para ver o buraco em que estamos. O que quero saber é o que o senhor pretende fazer para consertar o estrago? Quais as suas soluções? Seja claro, objetivo e diga a verdade. Lembre também que o senhor não vai ser apresentador de programa policial, diretor de DCE universitário ou operador da Bolsa de Valores. Sua função é encontrar soluções que atendam aos 213 milhões, principalmente os 99% de baixo, não apenas os seus amigos, que costumam estar entre o 1% de cima. Parece óbvio? Então olhe em volta e me diga o que viu.
Não quero tomar o seu tempo na sala de espera e muito menos no banheiro, então serei rápido com o outro pedido, que é o principal: dedique-se a diminuir a desigualdade neste país.
Não quero tomar o seu tempo na sala de espera e muito menos no banheiro, então serei rápido com o outro pedido, que é o principal: dedique-se a diminuir a desigualdade neste país.
Os seus amigos, esses que lhe financiam a campanha, têm que pagar mais impostos. É o óbvio: quem tem mais paga mais, quem tem menos, paga menos. Ah, mas já é assim, aqui o imposto é progressivo, responderá o senhor com ar inocente, de quem finge que não sabe como a banda toca. Como já lhe disse antes, a gente pode até ser ignorante, mas não é burro: não adianta não cobrar imposto de renda dos menos favorecidos e taxar o feijão e o arroz que comem ou a geladeira e o fogão que usam. O senhor acha mesmo que ninguém percebe a jogada?
Tem mais.
Da importância da saúde para todos, do SUS, nem preciso falar, a pandemia deixou claro até para o mais ignorante. Quanto à educação pública decente, é o mínimo para que todos os 213 milhões tenham as mesmas chances. Pergunte aos apóstolos dessa meritocracia marota que inventaram — essa do cada um por si — quanto herdaram, onde estudaram: a resposta também é óbvia. Aliás, o senhor e seus filhos deveriam ter acesso apenas a escolas e hospitais públicos. Se acha isso absurdo não precisa falar mais nada, já disse ao que veio antes de começar.
Da importância da saúde para todos, do SUS, nem preciso falar, a pandemia deixou claro até para o mais ignorante. Quanto à educação pública decente, é o mínimo para que todos os 213 milhões tenham as mesmas chances. Pergunte aos apóstolos dessa meritocracia marota que inventaram — essa do cada um por si — quanto herdaram, onde estudaram: a resposta também é óbvia. Aliás, o senhor e seus filhos deveriam ter acesso apenas a escolas e hospitais públicos. Se acha isso absurdo não precisa falar mais nada, já disse ao que veio antes de começar.
Imagino que neste momento o senhor, cansado de me ler, já está procurando um papel mais urgente do que um jornal. Ou então já foi chamado para entrar no consultório. Ficam por aqui os meus pedidos. Sou um em 213 milhões, mas acho que não estou sozinho.
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