quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Os ambientalistas invisíveis

Um grande fascínio é conferido a pessoas e instituições que se preocupam com a temática ambiental. Participam de palestras, eventos e homenagens. São consideradas sensíveis e solidárias. Porém, uma categoria de profissionais que atua diretamente pela sustentabilidade de nosso planeta é esquecida por todos e mora longe desse fascínio.

Trabalha de forma invisível aos olhares e distante da preocupação da maioria de nossa população. São catadores de lixo, ou melhor, trabalhadores da coleta e seleção de material reciclável, conforme define o Código Brasileiro de Ocupação (CBO), desde 2002.

Apesar de representarem um papel fundamental nos processos de reciclagem, vivem à deriva das políticas públicas que se recusam, de forma sistêmica, a incorporá-los como elo fundamental das cadeias de suprimentos.

Catadores de produtos recicláveis prestam, no silêncio do anonimato, nas adversidades das ruas e no preconceito da população, um serviço ambiental que poucas instituições promovem.


O trabalho desses cidadãos minimiza a pressão sobre os recursos naturais, reduz a poluição do solo, da água e do ar, mitiga a emissão de gases de efeito estufa, reduz o custo de produção de novos materiais e gera emprego e renda. Poucas atividades produtivas, com os mais diversos tipos de apoios e aplausos que recebem, podem ostentar tantos serviços ambientais prestados.


De acordo com levantamento da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), o Brasil obteve no ano de 2020 um índice de reciclagem de 97,4% de latas, colocando, assim, o país como um dos principais líderes mundiais neste setor.

Muito foi dito e comemorado, porém, pouco foi lembrado sobre quem efetivamente fez isso, que são os catadores de recicláveis. Um índice tão alto só foi possível por conta desse trabalho – e a eles, portanto, deve ser direcionado o reconhecimento maior.

Conforme o IBGE (2018), a maioria desses trabalhadores é do sexo masculino. São pretos, pardos ou indígenas, possuem idade média de 43 anos e estudaram no máximo até o ensino fundamental. São assim, pessoas que nasceram e cresceram às margens e no esquecimento de nossa sociedade, que insiste em não ver o que ocorre com os resíduos que gera todos os dias.

Em tempos de pandemia, a realidade dessa categoria se tornou ainda mais dura. O medo do vírus foi incorporado na luta diária para achar no lixo o seu ganha pão. O fechamento de diversos estabelecimentos e o medo da contaminação deixou milhares de catadores sem trabalho e renda. O glamour da sustentabilidade ficou ainda mais longe desses trabalhadores.

Já passa da hora de olharmos nossa sociedade como um todo e entendermos e respeitarmos os papéis de cada um. Um mundo só é sustentável se todos os seus integrantes forem incluídos na discussão e na ação.

Políticas públicas devem efetivamente contemplar os grandes heróis da reciclagem, que são os catadores. Essas pessoas tiram do lixo a matéria prima de novos produtos e o ganha pão de cada dia.

Sem alarde, deixam nosso ambiente mais limpo. Em tempos de conferências globais que insistem em estabelecer planos que não saem do papel, nada é tão sustentável quanto isso.

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