Nesta semana, tive que pensar na obra-prima alemã Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe. Nele, Mefisto, o diabo, diz em certo momento: "O Gênio sou que sempre nega! / E com razão; tudo o que vem a ser / É digno só de perecer / Seria, pois, melhor, nada vir a ser mais / Por isso, tudo a que chamais / De destruição, pecado, o mal / Meu elemento é, integral".
A essência deste Mefisto, então, é a destruição. Ele se deleita em demolir o que outros criaram. Ele é um cínico.
O governo Bolsonaro aboliu há poucos dias o Bolsa Família sem nenhuma necessidade e o substituiu por um programa chamado Auxílio Brasil. Ele vai durar um ano, até depois das próximas eleições, o que, naturalmente, não é coincidência. É a tentativa de Bolsonaro de "comprar" votos.
O Bolsa Família foi um dos programas governamentais de maior sucesso na história do Brasil. Não apenas salvou milhões de pessoas (especialmente mulheres e crianças) da fome e da pobreza extrema, mas deu-lhes, no melhor dos casos, a oportunidade de ascender socialmente. O Bolsa Família foi elogiado pelas Nações Unidas e recomendado a outros países. Foi um programa social que deu certo − e o Brasil era admirado internacionalmente por essa conquista.
Após 18 anos, portanto, não havia motivo nenhum para abolir o Bolsa Família. Bolsonaro provavelmente acabou com o programa por pura maldade e ciúme. Bateria com seu caráter mefistofélico. Em 2019, ele disse nos EUA: "Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa".
O Bolsa Família naturalmente não é a única coisa positiva que Bolsonaro destruiu. O desmatamento da floresta amazônica está atingindo novos recordes dramáticos. A principal razão disso é o desmantelamento sistemático de Ibama, ICMBio e Funai − órgãos que faziam um excelente trabalho até Bolsonaro chegar ao poder.
O seu governo está destruindo a ciência. Mais recentemente, cortou R$ 600 milhões, o que corresponde a 87% das verbas para a área. Especialistas já alertam para um colapso da pesquisa no país. "Estamos à beira de um apagão da ciência", diz, por exemplo, a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
Com as nomeações de vários ministros incompetentes e ideologizados para a pasta da Educação, o sistema educacional brasileiro foi ainda mais enfraquecido do que já era. Agora, o Enem passa por uma profunda crise por causa da interferência política de Bolsonaro. Da mesma forma como o Bolsa Família e o trabalho engajado do Ibama, o Enem era parte de um Brasil que deu certo.
A fé na democracia brasileira foi prejudicada gravemente pelo próprio presidente pelas teorias conspiratórias infundadas de que o sistema de votação eletrônico do país teria sido supostamente manipulado. Será ainda necessário mencionar que as urnas eletrônicas no Brasil também têm prestado um serviço fiável e rápido ao longo dos anos? As eleições no Brasil decorrem muito mais eficientemente do que nos EUA. Mas Bolsonaro também queria acabar com elas.
As políticas de família e de mulheres foram torpedeadas pela pastora evangélica radical Damares Alves como ministra. Damares esvaziou as verbas para combate à violência contra a mulher e usou apenas metade do dinheiro para ações de proteção e igualdade de direitos. Não usou nenhuma das verbas para políticas LGBT em 2020. Em vez disso, praticou nepotismo ao convidar amigos dela para viagens oficiais e gastar a verba de vocês, queridos contribuintes!
Por último, mas não menos importante: Bolsonaro não só enfraqueceu o sistema público de saúde do Brasil, relativamente bom para um país em desenvolvimento, diante da pandemia, mas também é responsável pela morte de milhares de brasileiros. Foi isso que constatou a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a pandemia. Bolsonaro não se importa – mas também não se espera outra coisa de um homem que chegou a desejar a morte violenta de 30 mil brasileiros.
Em três anos, Bolsonaro arruinou completamente a reputação internacional do Brasil. Já não se é mais invejado no exterior por morar no Brasil. As pessoas dizem: "Ah, Brasil, onde elegeram este louco que está destruindo a Amazônia e dizendo um monte de grosserias".
A destruição das relações internacionais do Brasil é a razão pela qual Bolsonaro não visita os EUA ou a Europa. Ninguém quer recebê-lo. Em vez disso, viaja às ditaduras árabes, onde suas piadas homofóbicas pegam bem.
O Brasil estava muito longe de ser perfeito, claro, mas havia conseguido construir coisas notáveis em muitas áreas: Bolsa Família, Ibama, Inpe, SUS, Enem, uma reputação internacional como mediador e como um país amigável e tolerante.
O cínico Bolsonaro tem feito de tudo nos últimos três anos para destruir essas conquistas. Está em sua natureza, ele não pode evitar. Ele é como o diabo Mefisto do Fausto de Goethe. "Por isso, tudo a que chamais / De destruição, pecado, o mal / Meu elemento é, integral."
Philipp Lichterbeck
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