Temos também um presidente do Banco Central que pergunta a banqueiro qual deveria ser o piso da taxa de juros, como revelou um áudio vazado no domingo. Como se o banqueiro não pudesse fazer uso dessa, digamos, questão privilegiada, para mandar os seus operadores anteciparem posições no mercado de juros futuros, ações e câmbio.
Nada disso é normal: nem presidente da República que usa fake news para desestimular vacinação, nem presidente do Banco Central que faz esse tipo de consulta a banqueiro. No primeiro caso, o fato grave deveria ensejar a abertura imediata de processo de impeachment, porque o crime de responsabilidade é tão claro, tão material, que parece desenhado em impressora 3D. Sabotar medidas de saúde pública é uma ameaça à segurança interna do país. O fato grave, enfatize-se, não é isolado. Vem no rastro de uma série de outras palavras e atos criminosos que já deveriam tê-lo tirado do Palácio do Planalto no ano passado, de preferência em um camburão.
No segundo caso, o presidente do Banco Central precisaria ser imediatamente afastado do cargo e uma investigação deveria ser aberta, para averiguar o grau de envolvimento dele com o banqueiro que se jactou a investidores de ter sido ouvido pela autoridade monetária. Aliás, fôssemos um país sério, o banqueiro também deveria ser investigado. É intrigante -- ou nem tanto -- que a esmagadora maioria da imprensa, praticamente toda, tenha ignorado o episódio espantoso. A fiscalização jornalística é, por aqui, despudoradamente seletiva.
Não é fake news: o Brasil sofre de imunodeficiência histórica quando o assunto é lei, princípio de moralidade na administração pública e lisura nas regras do jogo capitalista. Contra essa doença nacional, ainda não há vacina ou cura, infelizmente.
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