quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A quem interessa manter Bolsonaro no Planalto

A leitura dos jornais e sites dá a impressão de que o Brasil se encontra às vésperas de uma guerra civil ou de um golpe militar. As manifestações dos bolsonaristas, marcadas para 7 de setembro, estão sendo vistas como uma ameaça concreta às instituições — tão concreta que se teme que os aloprados transformem em realidade a invasão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, como preconizam policiais militares nas redes sociais. Para completar o quadro que se afigura tenebroso aos olhos de muitos, Jair Bolsonaro e seus acólitos continuam açulando os seus seguidores.

Posso estar quadradamente enganado, mas tendo a crer, assim como o vice-presidente Hamilton Mourão, que se trata de “fogo de palha“. O fato é que, com exceção daquele episódio no qual um grupelho comandando pela tal Sara Winter tentou invadir o Congresso, os atos de massa bolsonarista foram até agora pacíficos, num contraste entre o discurso e a ação — ao contrário de alguns atos da esquerda, que degeneraram em vandalizações de lojas e bancos. Seja como for, não é porque não ocorreu que não poderá ocorrer. Sempre é bom tomar cuidado com maluco.


Cada vez mais próximo da derrota eleitoral no ano que vem, Jair Bolsonaro procura marcar território, para manter-se como sombra política capaz de ainda causar apreensão. A principal preocupação do presidente da República é se tornar inelegível e até mesmo ir para a cadeia quando se tornar ex-presidente da República — e, para tanto, quer contar com uma massa de apoiadores permanentemente mobilizada em torno do “Mito“. Não deu certo com Lula, que acabou preso pela Lava Jato, mas a esta altura não resta outro caminho a Jair Bolsonaro, inclusive porque ele não contará com o beneplácito da Justiça lá adiante, assim como ocorreu como o chefão petista, se porventura os processos contra ele prosseguirem sem as paralisações de praxe, em especial os oriundos da CPI da Covid.

A pergunta a se fazer é se tem de ser assim: manter o elemento na Presidência da República, para não “vitimizá-lo” ainda mais com o impeachment, como se ouve em Brasília. Ora, se há uma vítima cada vez mais evidente aqui é o país, que sofreu mortalmente com os desmandos no enfrentamento da Covid e, agora, com uma inflação que já é galopante no índice real, o do bolso dos cidadãos. Qual é o problema de Jair Bolsonaro se vitimizar ainda mais? O de distúrbios de rua incontroláveis? Francamente, deveríamos ter aprendido algo com o episódio de Lula tentando escudar-se nos seus próprios aloprados, em abril de 2018, para não ser preso pela Polícia Federal. E se o receio existe hoje, com mostra o noticiário sobre o 7 de setembro bolsonarista, por que deixar para o eleitor a tarefa de tirar um golpista do Palácio do Planalto? O impeachment é um instrumento perfeitamente constitucional e Jair Bolsonaro já faz por merecê-lo bem mais do que os outros dois presidentes que sofreram impedimento. Toda e qualquer tentativa de diálogo com esse senhor destina-se a fracasso, uma vez que também não há diferença entre persona e pessoa real no caso dele.

A manutenção de Jair Bolsonaro na Presidência da República, não importa os motivos apontados em Brasília, só interessa ao Centrão fisiológico e corrupto, que avança sobre a carcaça de um governo que já morreu, aos que fazem cálculos eleitoreiros, visando a enfrentar um candidato à reeleição exangue e, não menos importante, aos liberticidas. É preocupante como, a pretexto de enfrentar a retórica golpista de Jair Bolsonaro e os seus acólitos, ministros do Judiciário avançam contra a liberdade de expressão, misturando alhos e bugalhos. O circo vem sendo armado, por exemplo, para a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, nos moldes desejados pelo PT, no primeiro mandato de Lula, para amordaçar a imprensa independente. E sabe-se se lá se não tirarão da cartola — ou do bolso de uma toga — um órgão oficial de controle das redes sociais? Estão, sim, criminalizando a opinião no Brasil, e essa poderá ser uma das heranças mais funestas do período que vivemos.

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