Na visita a Guaratinguetá (SP), segunda-feira, o presidente da República tirou de vez o simulacro de máscara que lhe encobria o rosto, e os brasileiros viram, sem disfarce, o ocupante do Palácio da Alvorada amedrontado por seus demônios e fantasmas, em estado de aparente transtorno, ou surto, e nem precisa ser psicólogo ou psiquiatra para chegar a esta conclusão. A dúvida é quanto à causa (ou motivos, que parecem múltiplos) de seu nervosismo e destempero, basta rever vídeos e áudios que correm pelas redes sociais e sites da internet, no Brasil e no mundo. Sintomático o acesso de fúria do mandatário ao gritar ordens, de público, para assessores e auxiliares de seu governo, mas principalmente para a repórter da afiliada da TV Globo na região, durante a caótica entrevista coletiva na pacata Guará: “Cale a boca! Essa TV Globo é uma merda”. E desfiou um desaforado, aluado e desconexo palavreado retórico, com xingamentos, ofensas e desvarios como não se tem notícia na história republicana e democrática do Brasil. Salvo, talvez, o caso do sucessor do presidente Venceslau Brás, em 1915, o mineiro Delfim Moreira, reconhecidamente amalucado, que cogitou até criar galinhas no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Há quem diga que, em Guaratinguetá, Bolsonaro teve uma explosão nervosa retardada. Efeito do editorial do Jornal Nacional, lido com força máxima por William Bonner e a colega de bancada, Renata Vasconcelos, na edição para não esquecer, do sábado em que o Brasil atingiu a vergonhosa e sinistra marca de 500 mil mortos pela pandemia Covid-19. Mas logo ficou patente que havia mais incêndios sob as chamas e chispas de fogo que o mandatário do Planalto soprava pelas narinas e boca às vésperas dos festejos a São João.
Além de distribuir xingamentos e ofensas a jornalistas em geral, e em especial à repórteres e fotógrafos que não se pautam por seu destrambelhado e autoritário “manual de redação”, no cercado da sua claque de adeptos no Alvorada, passou a maldizer também à CNN pela cobertura das manifestações, por “vacinas no braço, comida no prato e fora Bolsonaro”, no país, em especial na Avenida Paulista, do estado governado pelo tucano João Dória JR, inimigo visceral desde sua posse no cargo. As presenças de Boulos (Psol), Haddad (PT) e Orlando Silva (PC do B) puxando o ato que tomou 9 quarteirões da monumental avenida da megalópole brasileira, e os protestos do Rio de Janeiro – com a destacada presença de Chico Buarque de Holanda usando máscara no meio da multidão – também contribuíram para deixar em frangalhos o sistema emocional do capitão presidente.
Sem falar no embrulho chamado Ricardo Salles, o pior e mais suspeito ministro do Meio Ambiente da história do Brasil, que precisou ser expurgado, na quarta-feira junina, de triturar os nervos do mandatário, em queda expressiva nas pesquisas de opinião, que tinha em Salles, amigo do peito e arauto dos desmandos no governo. Há, ainda, os efeitos da Comissão Parlamentar de Inquérito Covid-19 e a “bomba” da superfaturada compra da vacina indiana Covaxim, que causam pesadelos e novos surtos como manifestados em Guaratinguetá. E nem apareceu ainda o nome da terceira via para 2022. Haja cordas!
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