Jesus, o verdadeiro, não aquele que ressoa na boca de Bolsonaro e seus motoqueiros, é o símbolo da vida e não da morte, da verdade e não da mentira. É o Jesus dos sem-teto e sem comida. O dos esquecidos e desprezados. É o símbolo do silêncio que cura e não do ruído que mata.
O Cristo da marcha ruidosa dos motociclistas de Bolsonaro é uma fake news das que o capitão machista e suas tropas armadas tanto gostam. O Jesus da marcha desapareceu de repente. Deram-se conta quando, na ausência do general Pazuello para convidá-lo a subir ao palco, Bolsonaro chamou Jesus. Sua surpresa foi que ele havia desaparecido.
O capitão reformado convocou seu enxame de policiais para que fossem procurá-lo. Onde poderia estar? Em algum bairro nobre da rica São Paulo? Em alguma favela? Em algum templo evangélico?
Nem mesmo a poderosa polícia de Bolsonaro conseguia encontrar Jesus. Até mobilizaram a polícia secreta. Nada. Perguntaram até aos mendigos. Ninguém o tinha visto.
De repente, espalhou-se a notícia de que Jesus havia aparecido. Acabara de ser encontrado por um médico em um hospital do SUS na periferia pobre de São Paulo. Estivera à cabeceira de uma mulher negra, intubada e amarrada à cama por falta de oxigênio.
Bolsonaro imediatamente quis saber mais detalhes sobre como Jesus a havia curado, se tinha sido com cloroquina. O médico e as enfermeiras juraram que Jesus não tinha dado nenhum remédio à doente, que segurou a cabeça dela nas mãos e lhe deu um beijo na testa, dizendo: “Mulher levanta-te e anda”. E a mulher ficou curada.
Bolsonaro insistiu em saber o que Jesus havia dado à mulher intubada. Uma enfermeira, falando quase sem abrir a boca, com medo, sussurrou: “Ele a curou com um gesto de amor”. Bolsonaro se irritou e comentou: “Não conheço esse remédio do amor. Com certeza ele lhe deu o que combate os piolhos”. E perguntou ainda se Jesus usava máscara. Disseram-lhe que sim e, então, fazendo uma de suas caretas típicas, ele afirmou, taxativo: “Então não era Jesus. Ele não é covarde. É macho”. Jesus era um profeta destemido. Chamou de “raposa” o imperador Herodes, que tentou impedi-lo de pregar para seu exército de doentes, leprosos, cegos e mendigos. Mas Jesus não era um valentão. Andava desarmado e a pé. Suou sangue quando soube que iriam crucificá-lo.
Já agonizando, queixou-se a Deus: “Por que me abandonastes?”, Jesus não era um super-herói. Ele se comovia com a dor alheia. Não mandava matar. Ressuscitava os mortos. “Curava todos”, escreve Lucas em seu evangelho. Não cultivava a violência nem a morte. Por isso fugiu da marcha para ir curar a mulher negra intubada e sem oxigênio.
Jesus é a bandeira antibolsonarista.
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