"A que vai levar a abertura da possível CPI?", questionou Bolsonaro numa entrevista noturna à CNN, defronte do Alvorada. Em geral, CPIs dão em nada. Ou em muito pouco. Mas costumam balançar o coreto de autoridades, espanando-lhes a reputação. Os sensatos aprendem com a exposição dos erros. Os imprudentes entram em processo de autocombustão.
Autoconvertido numa espécie de zagueiro do governo Bolsonaro, o ministro Fábio Faria (Comunicações) correu à grande área das redes sociais para espinafrar a decisão do magistrado Luís Roberto Barroso, do Supremo, que ordenou ao Senado a abertura da CPI. Faria disse que os esforços deveriam estar concentrados em combater a Covid e vacinar os brasileiros. Declarou que a hora é de união, não de politização e de caos.
A manifestação do ministro apenas reforça a impressão de que Bolsonaro e seu governo serão os principais fornecedores de matéria-prima para a investigação parlamentar.
De fato, as energias do país deveriam estar concentradas na vacinação. O diabo é que faltam vacinas. Bolsonaro demorou a comprar. Com seu negacionismo crônico, o presidente dedica-se a produzir provas contra si mesmo.
A união nacional seria aconselhável. Mas Bolsonaro transformou o tiro em governadores e prefeitos no seu esporte predileto. A escalada de mortos por covid, a escassez de vacinas e a fila de doentes na UTI são evidências de que caos não falta.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, infelizmente é contra a CPI. "É um ponto fora da curva", ele diz. "Pode ser o coroamento do insucesso nacional do enfrentamento da pandemia.".
Pacheco é advogado, não professor de geometria. Deveria preocupar-se com a Constituição. Será divertido observar se o senador aproximará a curva do ponto, prestigiando a investigação da Casa que preside, ou se trabalhará para puxá-lo de volta, fornecendo blindagem ao inquilino do Planalto.
A contrariedade de Bolsonaro confere à CPI que será instalada por ordem do ministro Luís Roberto Barroso uma aparência de atividade essencial —insuscetível, portanto, de paralisação ou protelação.
Barroso foi ao ponto no seu despacho: "O perigo da demora está demonstrado em razão da urgência na apuração de fatos que podem ter agravado os efeitos decorrentes da pandemia da Covid-19".
Não foi o ministro do Supremo quem mandou instalar a CPI. Barroso apenas deu voz à Constituição. Preenchidas as exigências constitucionais —apoio de um terço dos senadores, definição do fato a ser investigado e prazo de duração— a instalação da CPI é um direito da minoria parlamentar. Este é um ponto incontroverso. Sem curvas.
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