sábado, 31 de outubro de 2020

As mulheres do presidente

A ação identitária — alguns a batizam como “cultural”, o que é rematado marketing — ganhou contornos de guerra santa na atual temporada. 

Já há tempos, os partidos se viam obrigados a lançar uma cota de mulheres a cargos legislativos. A lei eleitoral agora determina que também haja uma cota de candidatos negros a partir do próximo pleito. 

Parece lindo (ah, o inferno…). Assim como os partidos criaram artifícios para burlar as candidaturas de mulheres; do mesmo jeito que agora privilegiam com o fundo eleitoral apenas os amigos de sempre; a cota de negros também já enfrenta burlas e obstáculos construídos pela direita de turno. 

Os laranjais do PSL, em Minas e Pernambuco, exibiram já como se torce a realidade: usaram a cota feminina como vitrine.

A ideia é que haja uma representação mais eficaz da sociedade? 

Vale então olhar a ação bozonarista no campo feminino. Como a extrema-direita distorce as boas intenções da esquerda identitária.


Basta observar as três mulheres mais empoderadas da república bozo-malafista. Damares Alves, Bia Kicis e Carla Zambelli. 

Obsessivamente religiosa, Damares pretende cumprir a missão de tentar impedir qualquer tipo de aborto no Brasil — mesmo os já autorizados pelo Supremo. 

Sua cruzada lembra a do teólogo cristão (século III) Orígenes de Cesareia. Reza a lenda: inspirado por algum versículo mal-ajambrado do Evangelho de São Mateus, o maluco castrou-se… Seu receio ao desejo, à potência sexual, o conduziu ao ato solitário… de automutilação. O corta-fora o fez deparar com outros cristãos ainda mais radicais, e acabou preso e torturado — sempre em nome de Deus (cruz-credo). 

Até chegarmos ao Papa Francisco, aquele que elogiou o prazer sexual e defende a união entre pessoas do mesmo sexo, passaram-se 2 mil anos. Não no Brasil, onde o Papa é visto como afamado comunista.

O sexo (dos outros) é um problema entre os bozonaristas (menos para o chefe, né?). 

No plano legislativo, as deputadas (beneficiadas pela cota feminina) Bia Kicis e Carla Zambelli dedicam-se, além das redes sociais, à defesa histérica das insanidades dos Bolsonaros. Perto dos ataques raivosos distribuídos por ambas, Alexandre Frota é um casto de convento. São Frota. 

A cota partidária é a solução? 

Aborto? Creche? Feminicídio? São questões ainda em aberto depois de anos das cotas femininas. Onde a mulher deixará a criança para ir ao trabalho? Com o pastor? Topas, Malafaia? 

E agora as cotas raciais? Lembre-se do abissal Sérgio Camargo, da Fundação Palmares. Ele está à direita da Ku Klux Klan. 

Os chilenos farão uma Constituinte composta por metade homens, metade mulheres. Além de etnias indígenas. Vamos ver. 

O voto distrital resultaria em maior benefício para toda a sociedade. Sem dar argumentos à clivagem explorada pela extrema-direita. 

Sorte das corporações… Não está na hora de se discutir o bilionário orçamento para a área militar em troca de recursos para a renda mínima?

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