Bolsonaro não mudou e nem mudará. Apenas mostrou que é mais esperto do que muitos supunham, deixando de lado o enfrentamento aberto e midiático com o STF — que tem o destino de seus filhos, e o seu próprio nas mãos — e montando, com cargos, favores e etc, uma base fisiológica para evitar um impeachment no Congresso. Esse comportamento, politicamente lógico e razoável, porém, não transformou o presidente. O rio é largo e a travessia, longa.
E lá está agora o escorpião ferroando os militares, desautorizando — ou permitindo que sejam desmoralizados por terceiros — Eduardo Pazuello, Hamilton Mourão, Luiz Eduardo Ramos e quem mais estiver em seu caminho para 2022. Ou quem ele achar que estiver. Que o diga o ex-porta voz Rego Barros, que perdeu uma promoção a general de quatro estrelas por estar no Planalto e agora foi enxotado de lá.
Bolsonaro não hesitará em negar à população brasileira o imunizante contra o veneno do coronavírus se sentir que alguém, como o governador João Doria, poderá tirar partido político disso. Junta-se aos lunáticos para xingar a vacina “chinesa" e acusar de “pressa" os brasileiros que, muito compreensivelmente, querem se imunizar para não morrer de Covid.
Não, Bolsonaro não mudou e nem mudará. A próxima ferroada pode ser em qualquer um, inclusive nos políticos, sejam eles do Centrão ou não. Afinal, de quem será a culpa pela agenda frustrada de reformas e pela paralisação do Congresso que assusta o mercado, afugenta os investidores e faz o dólar subir? Do escorpião é que não. Quem ainda não percebeu isso, e apóia esse governo acreditando que poderá mantê-lo sob controle, já foi ferroado e está, muito provavelmente, sob aquele torpor do envenenamento que precede o desfalecimento irreversível.
Helena Chagas
Helena Chagas
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