Sem rumo na pandemia, o governo passou a pressionar estados e municípios. Quer impor cloroquina como tratamento do vírus. Sem base científica, não consegue justificar a transformação desse medicamento no motor de suas ações contra o vírus.
Expõe-se na coação de agentes públicos sob motivação política, em decisão moldada à campanha de reeleição de Bolsonaro. Enquanto isso, ele posa para fotografias levantando uma caixa do remédio como troféu. Fez isso no fim de semana nos jardins do Palácio da Alvorada.
Com a encenação tenta ocultar a inépcia administrativa que deve acabar na Justiça. Nela, Bolsonaro envolveu seus generais-ministros Fernando Azevedo (Defesa) e Eduardo Pazuello (interino na Saúde).
Entre abril e junho, o governo recebeu 2,5 milhões de comprimidos do Exército. Em um trimestre o laboratório militar fabricou remédio suficiente para consumo próprio por mais de uma década, considerada a escala de produção antes da pandemia.
Já havia encomendado 3 milhões de unidades à Farmanguinhos para o programa antimalária. Pediu mais 4 milhões para entrega neste mês. Ao mesmo tempo, recebeu outros 2 milhões doados pelos Estados Unidos a pedido de Bolsonaro, de acordo com a embaixada americana.
Somam 11,5 milhões de doses. É suficiente para abastecer por 38 anos o mercado nacional, onde se consomem 300 mil comprimidos por ano. O governo aderna, sem saber o que fazer, num oceano de cloroquina.
Manipulação da Ciência não é novidade na biografia do presidente. Era deputado, 50 meses atrás, quando comandou o lobby da fosfoetanolamina. A “pílula da cura do câncer” foi liberada por lei e sancionada por Dilma Rousseff, mesmo sem base científica. Acabou vetada pelo Supremo, a pedido de entidades médicas, por “risco grave à vida”. Com a cloroquina, Bolsonaro está indo além: arrasta o governo e o Exército numa obsessão que, talvez, Freud explique.
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