É ainda o patrocinador da barafunda institucional em que o país se meteu.
Do “nazismo é um movimento da esquerda”, passando pela “gripezinha” para definir a Covid-19 e outras tantas sandices, até um “Acabou, porra!”, como fosse iminente a ordem de pôr tanques nas ruas, Bolsonaro acelera a indústria da transformação de achismos e mentiras em verdades – cloroquina salva e vamos chegar a 800 mortes no máximo com esse vírus aí são prova disso.
Paralelamente, estende a outras instituições a baderna de seu governo.
Nos últimos dias, a Procuradoria-Geral da República encarnou o papel de Advocacia-Geral da União, que por sua vez se calou diante da usurpação de suas atribuições pelo Ministério da Justiça, defensor do governo na investigação incendiária promovida pela Corte Suprema para apurar a disseminação de notícias falsas.
Na sexta-feira, 29, o país assistiu a uma cena inédita: o ministro da Educação Abraham Weintraub ficou mudo. Arguido pela Polícia Federal, usou o direito ao silêncio. Logo ele, um boquirroto contumaz que pinta e borda nas redes e fora delas, que gostaria de ver todos “esses vagabundos na cadeia, a começar pelo STF”.
Calou-se tarde demais.
Weintraub personifica a identidade do governo. Agride tudo e todos que dele discordam, fala pelos cotovelos e mente descaradamente. Já acusou universidades de manter “extensas plantações de maconha”, divulgando fotos falsas, responde a processo por racismo pela desfeita aos chineses. Mentiu sobre o contingenciamento de verbas para o ensino superior e para a recuperação do Museu Nacional, no Rio, apresentando um vídeo patético em que aparece “cantando na chuva”.
Ainda que pareça imbatível, Weintraub não é o único. Outros auxiliares de Bolsonaro competem na diabólica disputa de produção de absurdos. De “meninas que enfiam a cruz na vagina” ao “rock como indutor das drogas, que induz ao aborto e ao satanismo”, só para citar alguns exemplos.
Muitos dos ditos têm lugar apenas no folclore. Mas as repetidas incitações à violência contra os poderes e a imprensa, multiplicadas geometricamente nas redes pela combinação fanáticos-robôs, e a presença constante do presidente em atos pró-fechamento do Congresso e do Supremo acenderam todos os alertas.
A reação irada de Bolsonaro e dos seus quanto às diligências do inquérito das fake news no âmbito do STF fez o amarelo virar vermelho e a sirene apitar.
Sem qualquer pudor, Eduardo, o filho 03, assegurou que haverá ruptura institucional no país: “o problema não é mais se, mas quando”. Isso em uma live em que o guru bolsonarista Olavo de Carvalho defendeu pena de morte para o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF.
Além do potencial para desnudar métodos de atuação e financiamento, o complexo sistema de difusão de notícias falsas nas redes pode desnudar o filhote Carlos. E colocar em xeque a própria eleição da chapa Bolsonaro-Mourão em processos já em curso no Tribunal Superior Eleitoral.
Antes de cutucar seus aliados, o governo já não dava a mínima para a pandemia cujo combate deveria liderar. Agora, todas as energias do presidente, incapaz de um único gesto humanitário ou de consolo às famílias atingidas pelo flagelo, estão canalizadas exclusivamente para a autodefesa. Bolsonaro, diga-se, sempre foi assim, mas a cada dia fica mais escancarado que o próprio umbigo é o foco exclusivo dos seus olhos.
No avesso das normas civilizatórias e da democracia, o presidente bagunça instituições públicas, defende armar o povo contra autoridades constituídas e prega a insurreição contra a Justiça, ameaçando não cumprir o que considera “ordens absurdas”.
O bicho pode até ser desdentado, do tipo que só ladra, como parlamentares e ministros do Supremo têm dito na tentativa de apaziguar ânimos. Mas a prudência exige vacina antirrábica, um contundente não ao ódio que o presidente e os seus espalham, o rechaço aos arreganhos autoritários e a união de todos que têm algum juízo.
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