Não se deve julgar quem penou – ou seja, pagou a pena pelos seus erros. Mas uma segunda chance a que todos os que erram têm direito, não deve começar pelo posto de julgador. A Jefferson falta autoridade moral para exercer o papel de emissor de atestado de probidade.
O fato, por isso, torna-se um atestado de óbito da virtude, antes conceituada como algo além do dever mais elementar, a honestidade. O especialista Jefferson, posa agora de metralhadora em punho em foto cuja legenda prega o fechamento do Supremo Tribunal Federal, sob o argumento de que o poder verdadeiro está “na ponta do fuzil”.
Diante de tal distorção, espanta que continue sem merecer nova avaliação penal como personagem com direito a um recomeço. A metralhadora não é metáfora, mas uma proposta de extinguir a Suprema Corte à bala. Não fosse aquela que o condenou por crimes confessados, já seria uma incitação inaceitável. Sendo a instância máxima do Judiciário, e a que efetivamente o mandou para a prisão, é incompreensível o silêncio em torno de sua nova performance.
O exercício impune do cangaço digital de Jefferson é uma mostra, mais que tantas outras, do colapso moral que assola o país, em uma escala epidêmica contra a qual, à semelhança do coronavírus, não se consegue aplicar um antídoto. A diferença é que para este não se descobriu o remédio, ao contrário daquele contra o qual simplesmente não se aplica a vacina.
Jefferson experimenta uma dupla sensação de prazer. De um lado, vinga-se de sua condenação, a expor seus julgadores como integrantes de uma Corte desonesta – aqui com o estímulo da comunicação extra-oficial do governo. De outro, enxerga ansioso a possibilidade de voltar a influir na política nacional, o que importa em recomeçar sua liberdade com emprego que um ex-detento comum jamais teria.
No caso, Jefferson resgata o sonho de ter novamente o ministério do Trabalho, já extinto, mas passível de ressurreição, onde não desistiu ainda de colocar sua filha, Cristiane Brasil, vetada pela Justiça para essa função no governo anterior. Se não for por aí, não tem importância, outro mimo serve também, no contexto de uma aliança de sobrevivência costurada pelo governo.
Seria irônico, se não fosse dramático, que o renascimento de Jefferson para a política se dê pelas mãos de Bolsonaro, eleito com o mote de combate à corrupção, na esteira da Lava Jato, cujo símbolo maior acaba de deixar o governo dizendo que se enganou.
Assim, como nos anúncios de substituição nos jogos de futebol, o governo informa: sai Sérgio Moro, entra Roberto Jefferson.</p>
João Bosco Rabello
João Bosco Rabello
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