Com esse resultado, esperava-se um apoio forte deles e de outros agentes do mercado no combate ao avanço do novo coronavírus. Nas últimas semanas, várias instituições financeiras anunciaram doações para combater a pandemia. O valor estimado, de R$ 230 milhões, parece ser expressivo. No entanto, representa apenas 0,4% do lucro líquido registrado em 2019 pelos quatro gigantes da área.
Nesse sentido, a filantropia bancária poderia ter muito mais resultado se revertida em efetiva facilitação na concessão de crédito com juros menos extorsivos, garantias mais flexíveis e simplificação da burocracia. Isso ajudaria muito neste momento de crise.
E quem está sofrendo com o excesso de exigências dos bancos são justamente aqueles que estão na ponta do combate ao tratamento de brasileiros diagnosticados com a Covid-19: as 2.100 Santas Casas de Misericórdia espalhadas por esse Brasil afora. Elas atendem mais de 54% da demanda do Sistema Único de Saúde (SUS).
Ainda em 2018, aprovamos no Congresso Nacional medida que autorizou a criação de linha de crédito de R$ 5 bilhões com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para socorrer as santas casas e os hospitais filantrópicos que atendem pelo SUS. A proposta foi sancionada no mesmo ano e, em 2019, precisou de regulamentação, feita por meio de uma medida provisória. Para reforçar essa ajuda, ainda aprovamos agora em abril, já no meio da pandemia, a transferência de R$ 2 bilhões da União para as santas casas.
No entanto, como declarou nesta semana o presidente da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB), Mirocles Véras, as linhas de crédito não estão atendendo às santas casas. De acordo com ele, as condições impostas pela Caixa Econômica Federal estão impedindo que os recursos cheguem às instituições, que seguem endividadas e sem capacidade de se financiar.
A Confederação alega que o banco público está propondo juros que ainda são proibitivos para as entidades. Além do mais, o processo é muito burocrático e com exigências de garantias suplementares. Outro problema enfrentado é a falta de informação nas agências. Muitas superintendências regionais sequer conhecem as regras. Na prática, segundo Véras, o empréstimo é inviável na maioria dos casos.
Ou seja, trata-se de um dinheiro que deveria chegar rapidamente na ponta para os que fazem o enfrentamento da pandemia, mas que fica represado no caixa dos bancos.
Enquanto isso, mesmo no meio da crise, os maiores bancos da América Latina voltaram às graças de analistas. O Goldman Sachs está recomendando a compra de papéis do Itaú Unibanco e Banco Bradesco, enquanto o Bank of America adicionou o Itaú ao portfólio recomendado na região.
“Agora é a hora de comprar bancos”, disse para a Bloomberg Tim Love, diretor de ações de mercados emergentes da GAM Investments, de Londres, com cerca de US$ 1 bilhão sob gestão. Segundo ele, os grandes bancos brasileiros “são conhecidos por serem capazes de manter margens e dar lucro em qualquer ambiente”.
Os bancos lucram e o Brasil perde vidas em uma das maiores tragédias de sua história.Rubens Bueno
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