Embora Cingapura seja vulnerável, enquanto hub global densamente povoado, até o momento o país insular registrou 844 casos de covid-19 e três mortes. Coincidindo com o Ano Novo Chinês, o novo coronavírus poderia ter sido catastrófico para a pequena cidade-Estado.
No entanto, apesar do risco de prejudicar as relações econômicas com seu terceiro maior parceiro comercial, por volta de 1º de fevereiro Cingapura já impusera restrições de ingresso a passageiros da China, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que as proibições de viagens não eram necessárias naquele momento.
Mesmo assim, em meados de fevereiro Cingapura registrara mais de 80 casos de covid-19, o número mais alto fora da China. O país agiu rapidamente isolando doentes e testando todos com sintomas de gripe e pneumonia. Quem entrara em contato com os enfermos foi rastreado e colocado em quarentena.
Usou-se o "método de rastreamento de contatos" desenvolvido durante a epidemia de Sars em 2003, que abrange o registro meticuloso dos dados de contato, com funcionários entrando nos edifícios e entrevistando os infectados sobre seus movimentos recentes.
Para resumir, o sucesso de Cingapura na gestão do surto de covid-19 se resume a três ingredientes básicos e um maior: fechar as fronteiras cedo, rigoroso rastreamento de contatos, muitos testes ‒ e a Sars no papel de um macabro ensaio geral.
Tais medidas permitiram que a vida pública continuasse normalmente. Todos os restaurantes, shoppings, escolas e escritórios permanecem abertos até o momento. Hong Kong e Taiwan têm histórias de sucesso semelhantes, apesar da proximidade com a China.
Por mais terrível que pareça, provavelmente teria sido útil se a Europa tivesse vivenciado a epidemia de Sars. O fracasso em reagir com rapidez e eficácia ao surto que se anuncia foi resultado da arrogância eurocêntrica e de esforços descoordenados para proteger as empresas locais. Embora os líderes europeus já tivessem tomado conhecimento do vírus em dezembro, ele foi subestimado por muito tempo e considerado um "problema asiático".
Tudo o que Cingapura fez de correto ‒ fechar as fronteiras cedo, testar amplamente e rastrear contatos ‒ os países da Europa fizeram de errado. Tomando a Áustria como exemplo, os voos da China, Irã e Itália só foram interrompidos em 9 de março. Durante muito tempo, o medo de prejudicar a economia local com a proibição de viagens impediu Viena de implementar medidas rigorosas.
Um dos centros do surto na Europa, a estação de esqui de Ischgl, demorou oito dias para reagir aos casos confirmados de turistas da Islândia e encerrar as atividades. Todos os visitantes foram rapidamente mandados embora sem testes, vindo posteriormente a espalhar o vírus por todo o continente.
Em geral, os testes são escassos, apesar do longo espaço de tempo que os governos tiveram para reagir. Sequer as equipes médicas têm acesso a testes suficientes, e esse gargalo causa um declínio adicional de seus auxiliares, que podem acabar em quarentena enquanto aguardam dias para obter seus resultados.
O rastreamento de contatos com o rigor apresentado em Cingapura ‒ onde todos os casos podem ser seguidos num painel ‒ é impensável na Europa. Ao mesmo tempo, os governos impuseram algumas das medidas mais estritas à liberdade pessoal vistas na Europa do pós-guerra. Em vez de descobrir quem está infectado e isolá-los, todos foram colocados num ineficaz estado de semi-isolamento.
Ainda existem muitas possibilidades de transmitir a doença, pois não há como saber quem está infectado. Ao mesmo tempo em que a liberdade pessoal é reduzida ao mínimo, a economia está parada e os provedores de telefonia móvel estão repassando dados de movimento aos governos, ao contrário com o que a GDPR, a lei de proteção de dados da União Europeia, nos havia prometido.
Esta não é apenas uma crise de saúde, mas uma crise de gestão ‒ da reação tardia às implicações para a liberdade pessoal. Devemos esperar que nossos líderes assegurem saúde e liberdade, e precisamos investigar por que eles fracassaram ‒ e o que podemos aprender com Cingapura.
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