terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Estudo da Oxfam: 'É urgente encontrar soluções novas para o cuidado de crianças e idosos'

O ponto central do relatório da ONG britânica Oxfam é o trabalho de cuidado a dependentes que não é remunerado. O estudo, que também estima a concentração de riqueza no mundo, revela que esse tipo de ocupação é exercido principalmente pelas mulheres, em especial as mais pobres. São elas que cuidam das crianças e dos mais velhos. É urgente encontrar soluções novas.

Se as horas trabalhadas por elas em casa fossem remuneradas, seriam injetados US$ 10,8 trilhões na economia mundial a cada ano. Esse seria a medida econômica do problema. O assunto também é importante no debate sobre a desigualdade, que a Oxfam considera como fora de controle, em seu relatório.


Faltam políticas públicas. Uma criança deveria ter vaga em creche. Mas o normal hoje é que as meninas cuidem das crianças e dos mais velhos da família enquanto os homens vão para o mercado de trabalho. Faz parte dessa divisão errada dos papeis familiares. É uma visão envelhecida. Os cuidados têm que ser compartilhados dentro dos lares e todos, homens e mulheres, precisam ter a oportunidade de buscar o mercado de trabalho.

As soluções precisam ser modernas. É assim que as economias e as sociedades prosperam. O risco desse modelo é que a mulher passe parte da vida produtiva cuidando dos filhos em casa e outra parte dedicada aos cuidados dos mais velhos.

Remunerar a mulher pelo trabalho doméstico não é uma boa solução. Isso congela a ideia de que o cuidado dos dependentes é uma obrigação da mulher. É um equívoco. A política pública para mudar essa situação é, por exemplo, ter mais creches especialmente em lugares pobres. Uma mãe que sai para trabalhar e deixa a filha mais velha cuidando da mais nova é a superexploração da mulher enquanto ela ainda é uma menina.

O Brasil precisa pensar também em como será a sua organização com o aumento do número de idosos. O estado pode oferecer instituições de longa permanência para os mais velhos, com tratamento mais humano.

As soluções têm que ir no sentido de modernizar as sociedades. Nos países nórdicos, o auxílio-maternidade não existe. É um benefício para o cuidado com a criança, dividido entre o pai, a mãe ou até outra pessoa da família, que passa um período de meses cuidando do dependente. Deixar o auxílio exclusivo para a mãe consagraria o princípio de que só a mãe vai cuidar. Relações intensas com o pai e a mãe formam seres humanos melhores, que entendem os diferentes papeis na sociedade.
Há muito o que ser feito na redistribuição do trabalho doméstico.

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