quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Copo mais para vazio que para cheio

Em sua avaliação da economia mundial divulgada este mês durante a conferência anual de Davos, o FMI (Fundo Monetário Internacional) apresentou uma expectativa mais positiva do crescimento do PIB brasileiro para 2020. Em vez do magro 1.0% registrado em 2019, poderemos crescer 2.2%, graças principalmente à Reforma da Previdência e a prospectos mais favoráveis no setor de mineração.

Uma boa notícia, e melhor ainda na comparação com a média da América Latina, que ficará em torno de 1.6%, ainda segundo o FMI. Evitemos, porém, um entusiasmo prematuro, pois, além de percalços internos, dos quais falarei adiante, nossos 2.2% ficam bem abaixo dos 3.4% de crescimento previstos para a economia mundial e correspondem exatamente à metade dos 4.4% esperados para os chamados países “emergentes”.


Permanecemos, portanto, presos no que o jargão dos economistas denomina “armadilha da renda média”, ou “armadilha do baixo crescimento”. Essa armadilha se configura quando, após diversas décadas de crescimento relativamente fácil, baseado na incorporação de mão de obra pouco qualificada e em empreendimentos pouco exigentes em tecnologia, o País empaca. Falta-lhe empuxo, econômico e político, para retomar o crescimento.

Para bem entender o quadro acima esboçado, é preciso desfazer um equívoco comum. Há quem pense que o tamanho de nossa economia, situada mais ou menos em oitavo lugar no ranking mundial, é por si só um indicador de riqueza. Os que sustentam esse ponto de vista se esquecem de fazer duas ressalvas essenciais. O tamanho da economia mantém relação direta com o tamanho da população, que em nosso caso anda pelos 210 milhões, e com a nossa ampla disponibilidade de recursos naturais (minérios, soja, alimentos) que nos asseguram uma posição relativamente forte no comércio internacional. Mas aí acabam as boas notícias. A reforma da Previdência foi um avanço importante, mas ainda não está se refletindo em grandes investimentos, domésticos ou internacionais.

Sem isso, as condições da infraestrutura e a produtividade do trabalho permanecerão num patamar muito aquém do necessário. Nosso nível educacional, e consequentemente o nível de capacitação da força de trabalho, são lastimáveis, contrastando dramaticamente com o quadro de acelerado avanço tecnológico que está emergindo por toda parte. Vamos, pois, com calma. O copo não está cheio como à primeira vista se possa imaginar.

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