segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Árvores da Amazônia são mais sensíveis ao fogo, diz estudo de Yale e do Ipam

Estudo de um time internacional de cientistas aponta que a casca das árvores em florestas tropicais, “consistentemente mais fina”, torna a região amazônica mais sensível a incêndios. O grupo inclui pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com sede em Belém.

“Os incêndios representam uma acelerada ameaça para a floresta tropical da Amazônia. No período de seca, podem afetar áreas ainda maiores. Neste estudo, mostramos o quanto a casca mais espessa pode proteger as árvores do fogo, mas em florestas tropicais as cascas são consistentemente mais finas”, afirma o texto dos pesquisadores.


O levantamento foi produzido pela professora norte-americana de ecologia e evolução biológica Ann Carla Staver, de Yale, e pelo brasileiro Paulo Brando, do Ipam, além de cientistas colaboradores. Segundo o estudo, a casca mais fina aumenta a mortalidade das árvores pelo fogo – especialmente nas matas mais úmidas.

“A intensidade do fogo afeta claramente a mortalidade das árvores, mas, mesmo assim, diversas florestas podem reagir de maneira diferente a uma intensidade de fogo semelhante. […] As reduções na mortalidade de caules entre árvores com casca mais espessa têm sido extensivamente descritas em áreas mais inflamáveis”, afirma o estudo dos cientistas.

Os pesquisadores explicam que a espessura dessa casca nos troncos varia com as particularidades de cada floresta. Áreas mais úmidas, por exemplo, resultam em árvores com casca mais fina.

Essa diferença é perceptível mesmo considerando um único bioma. Segundo o estudo, as árvores do projeto Tanguro em uma área amazônica do Mato Grosso, por exemplo, são mais resistentes ao fogo que aquelas da região de Manaus, no Amazonas.

O fogo, de acordo com os cientistas, se transformou na principal ameaça às florestas tropicais ao longo das últimas três décadas. O cenário é reflexo de uma combinação entre o desmatamento e o aumento da frequência das secas.

“Ao longo do século 20, os incêndios foram amplamente restritos a áreas com desmatamento ou áreas desmatadas para manutenção agrícola, mas agora os incêndios podem se espalhar prontamente por florestas que não foram perturbadas, aumentando drasticamente as áreas queimadas”, sublinham.

Entre 2000 e 2013, os pesquisadores mediram a espessura média de cascas de árvores em 13 diferentes pontos da Amazônia. Em cada local, os cientistas consideravam uma área total de 1 hectare (10 mil metros quadrados).

A partir da análise por imagens de satélites, percebendo o comportamento de cada uma dessas áreas em caso de incêndios, foi possível compreender como se dava a taxa de mortalidade das árvores locais ao terem contato com o fogo.

Os pesquisadores concluíram, a partir desses dados, que onde havia árvores com cascas mais espessas, o fogo se alastrava com menor propulsão, ou seja, mais lentamente.

Medido no período que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte, o desmatamento na Amazônia aumentou em 15% no acumulado dos 12 meses de 2019 em relação ao mesmo período no ano anterior, em 2018.

Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, instituto que não é ligado ao governo. A área desmatada nos últimos 12 meses chegou a 5.054 km².

Já para o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Amazônia registrou o índice mais alto de queimadas dos últimos quatro anos, com 30% mais focos de incêndio.
Matheus Leitão

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