Da mesma forma, segundo essa visão conservadora, sua pregação em prol dos negros não apostava na divisão da sociedade como fariam hoje os movimentos identitários. Luther King falava em liberdade e direitos iguais.
Há duas semanas, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aproveitou o Dia da Consciência Negra para exaltar a figura de Luther King e dizer que ele era um conservador.
“Sempre devemos lembrar a mensagem do pastor Martin Luther King, ícone da luta pela igualdade racial (que a esquerda faz questão de esconder que era conservador)”, tuitou o filho do presidente.
No mesmo tuíte, reproduziu um trecho do discurso do reverendo em 1963 em Washington que ficou famoso pela repetição da expressão “I have a dream” (eu tenho um sonho). A tese de Eduardo, logo bombardeada por pessoas de esquerda, é que o sonho de uma sociedade em que ninguém será julgado pela cor da pele é um libelo contra políticas como cotas raciais, uma das bandeiras do movimento negro.
Alguns conservadores dizem também que Luther King era um defensor das armas, apesar do seu discurso de não-violência. Segundo essa visão, o pastor precisava se armar contra a tirania do Estado e das autoridades no Sul americano, parte mais racista do país, e onde fez sua carreira.
Durante a conferência conservadora Cpac, ocorrida em outubro em São Paulo, o ativista pró-armas Benê Barbosa mencionou essa característica do reverendo em sua fala. Foi efusivamente aplaudido pela plateia.
“Sem dúvida nenhuma, Martin Luther King era alguém que tinha valores conservadores. Era contrário ao aborto, que via como uma tentativa de diminuir a população negra. Era pastor, pró-Deus, tinha fé cristã. E na questão das armas, ele era proprietário, tinha armas comprada legalmente”, disse Barbosa ao blog. Segundo ele, Luther King requisitou porte de armas às autoridades americanas, o que foi negado por causa da legislação racista da época. Em abril de 1968, o reverendo acabou sendo assassinado num hotel na cidade de Memphis.
A esquerda, por sua vez, não está disposta a abrir mão tão facilmente da associação com o pastor americano. Veja, por exemplo, o que disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em carta que enviou da prisão em dezembro do ano passado, para marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
“Hoje é dia de recordar os heróis dessa luta em todos as frentes: Martin Luther King, sacrificado pela defesa dos direitos civis; Nelson Mandela, que viveu 27 anos encarcerado pelo regime do apartheid; Mahatma Gandhi, que fez da não-violência a mais forte resistência ao regime colonial”.
A tentativa da direita de tomar para si este símbolo é por um lado reveladora e por outro difícil de emplacar. Reveladora porque é um sintoma da falta de figuras midiáticas do campo conservador no século 20 que possam competir com a iconografia esquerdista. Tirando Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Winston Churchill, pouco sobra.
É difícil de emplacar porque Luther King estava longe de caber no figurino que a direita gostaria de inseri-lo. Seu tom era pacifista até certo ponto. No famoso discurso de 1963, ele diz, por exemplo, que “não haverá nem descanso, nem tranquilidade na América até o negro ter garantidos seus direitos de cidadão”. “Os turbilhões da revolta continuarão a abalar as fundações da nossa nação até o dia claro da justiça emergir”, prega.
Sim, ele aceitava as armas, mas tinha uma relação com elas que poderia ser mais bem descrita como ambivalente, recusando-se a usá-las diversas vezes, e pregando a resistência pacífica. Também era a favor de políticas de controle de natalidade, para amenizar a pobreza das famílias mais pobres (sobretudo negras, portanto).
É improvável que a direita consiga capturar o legado de Luther King, mas só a tentativa já demonstra que nem os ícones mais sagrados estão a salvo de nossas batalhas culturais.
Há duas semanas, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aproveitou o Dia da Consciência Negra para exaltar a figura de Luther King e dizer que ele era um conservador.
“Sempre devemos lembrar a mensagem do pastor Martin Luther King, ícone da luta pela igualdade racial (que a esquerda faz questão de esconder que era conservador)”, tuitou o filho do presidente.
No mesmo tuíte, reproduziu um trecho do discurso do reverendo em 1963 em Washington que ficou famoso pela repetição da expressão “I have a dream” (eu tenho um sonho). A tese de Eduardo, logo bombardeada por pessoas de esquerda, é que o sonho de uma sociedade em que ninguém será julgado pela cor da pele é um libelo contra políticas como cotas raciais, uma das bandeiras do movimento negro.
Alguns conservadores dizem também que Luther King era um defensor das armas, apesar do seu discurso de não-violência. Segundo essa visão, o pastor precisava se armar contra a tirania do Estado e das autoridades no Sul americano, parte mais racista do país, e onde fez sua carreira.
Durante a conferência conservadora Cpac, ocorrida em outubro em São Paulo, o ativista pró-armas Benê Barbosa mencionou essa característica do reverendo em sua fala. Foi efusivamente aplaudido pela plateia.
“Sem dúvida nenhuma, Martin Luther King era alguém que tinha valores conservadores. Era contrário ao aborto, que via como uma tentativa de diminuir a população negra. Era pastor, pró-Deus, tinha fé cristã. E na questão das armas, ele era proprietário, tinha armas comprada legalmente”, disse Barbosa ao blog. Segundo ele, Luther King requisitou porte de armas às autoridades americanas, o que foi negado por causa da legislação racista da época. Em abril de 1968, o reverendo acabou sendo assassinado num hotel na cidade de Memphis.
A esquerda, por sua vez, não está disposta a abrir mão tão facilmente da associação com o pastor americano. Veja, por exemplo, o que disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em carta que enviou da prisão em dezembro do ano passado, para marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
“Hoje é dia de recordar os heróis dessa luta em todos as frentes: Martin Luther King, sacrificado pela defesa dos direitos civis; Nelson Mandela, que viveu 27 anos encarcerado pelo regime do apartheid; Mahatma Gandhi, que fez da não-violência a mais forte resistência ao regime colonial”.
A tentativa da direita de tomar para si este símbolo é por um lado reveladora e por outro difícil de emplacar. Reveladora porque é um sintoma da falta de figuras midiáticas do campo conservador no século 20 que possam competir com a iconografia esquerdista. Tirando Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Winston Churchill, pouco sobra.
É difícil de emplacar porque Luther King estava longe de caber no figurino que a direita gostaria de inseri-lo. Seu tom era pacifista até certo ponto. No famoso discurso de 1963, ele diz, por exemplo, que “não haverá nem descanso, nem tranquilidade na América até o negro ter garantidos seus direitos de cidadão”. “Os turbilhões da revolta continuarão a abalar as fundações da nossa nação até o dia claro da justiça emergir”, prega.
Sim, ele aceitava as armas, mas tinha uma relação com elas que poderia ser mais bem descrita como ambivalente, recusando-se a usá-las diversas vezes, e pregando a resistência pacífica. Também era a favor de políticas de controle de natalidade, para amenizar a pobreza das famílias mais pobres (sobretudo negras, portanto).
É improvável que a direita consiga capturar o legado de Luther King, mas só a tentativa já demonstra que nem os ícones mais sagrados estão a salvo de nossas batalhas culturais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário