Conta, na intermediação, com os acólitos que filmam e transmitem ao vivo nas redes sociais, e com a claque disposta a apoiar com gargalhadas e apupos encorajadores o que quer que ele diga. O presidente dita a pauta e o que pode, ou não ser perguntado. Se estiver de ovo virado, dá as costas e vai embora sem responder.
Na última semana, uma nova arma de “comunicação” foi introduzida no ritual: o mimimi choroso. Visivelmente assustado com a reação furiosa de seus apoiadores das redes sociais à indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República, Bolsonaro se pôs a filosofar sobre política. Se as pessoas não apoiarem suas decisões, como a indicação de Aras, ele vai “cair” e o PT, uma espécie de bicho-papão que brande perante um eleitor infantilizado como a vovó diante da criança malcriada, vai voltar.
Isso no dia do aniversário de um ano de seu “renascimento”, outra mistificação perigosa que Bolsonaro faz de um incidente grave, hediondo, o do atentado a faca de que foi vítima em Juiz de Fora, que de fato quase o vitimou, pelo qual sofre consequências físicas até hoje – como a cirurgia a que será submetido neste domingo – e que certamente influenciou o resultado das eleições.
E na véspera de outro evento simbólico, o Sete de Setembro, no qual o presidente se cercou da família e de políticos, mas não só: estavam lá, em posição de destaque, dois dos principais homens de mídia do Brasil, Silvio Santos e Edir Macedo, concorrentes irmanados em sorrisos em jantares e palanques. Uma semana antes, Bolsonaro se ajoelhou aos pés do primeiro e foi visitar o segundo.
O que se quer com essa parceria amplamente fotografada não tem sutileza nem se tenta esconder: Bolsonaro deseja fomentar uma mídia favorável ao governo, para se contrapor ao inimigo-mor, a Globo, e aos demais veículos que enxerga como adversários. Não é sequer novo o expediente: foi usado fartamente por Lula, sem nem variação dos personagens.
No fundo, o que Bolsonaro espera da imprensa, do público que trata como criança e das instituições como o Ministério Público, cujo chefe acaba de designar, é a mesma coisa: submissão.
Não passava pela cabeça do capitão que seus seguidores sempre tão inflamados, dispostos a postar emojis de bandeirinhas do Brasil e arminhas, trocar suas fotos por cafonas avatares vaporwave e aceitar qualquer narrativa fake fossem ficar enfurecidos com a escolha de Aras.
A fragilidade no olhar e a hesitação na fala de Bolsonaro na live de quinta-feira, quando inacreditavelmente instruiu as pessoas a apagarem comentários contra ele, e no dia seguinte, ao contar a história da carochinha da volta do PT-papão, são provas disso: ele foi convencido pelos acólitos de que aquele terreno era impermeável a críticas.
Nem a internet é controlável, presidente. Que dizer de instituições republicanas, como a imprensa e o Ministério Público? O senhor pode até encontrar puxa-sacos influentes para tirar fotos risonhas para acalmar as redes revoltas, mas a sociedade brasileira evoluiu, se institucionalizou e não se submeterá.
“Independência ou morte!”, teria proclamado Dom Pedro I às margens do Ipiranga, segundo a história. Que o mote anime jornalistas, eleitores, procuradores e o resto da sociedade a não se deixarem intimidar com muxoxos, ameaças e acenos à adesão condescendente.
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