Vale a pena ouvir o presidente: "Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ongueiros para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos. Vamos fazer o possível e o impossível para conter esse incêndio criminoso".
Um pouco mais de Bolsonaro: "O crime existe. E nós temos de fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiros de ONGs. Dos repasses de fora, 40% ia para ONGs. Não tem mais. Acabamos também com o repasse de dinheiro público, de forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro".
O "sentimento" de Bolsonaro é uma lição de vida. Que governante precisa mais do que isso, uma língua solta, meia dúzia de microfones e as ONGs para assumir todas as culpas? É tão prático quanto um misto quente: presunto, queijo e duas torradas.
A política convive com uma regra antiga. Foi importada da propaganda. Baseia-se num procedimento elementar: personalize. Qualquer coisa pode ser vendida —de óleo de peroba à desfaçatez— se tiver uma cara e um enredo. Dê um nome ao seu inimigo, ornamente-o com um rabo e um par de chifres e pronto! Seus problemas acabaram. A identificação do demônio libera o exorcista do exame de todo o mal.
Na área ambiental, Bolsonaro personalizou o demônio: as ONGs. Muitos podem enxergar nas palavras do presidente algo parecido com uma denunciação caluniosa. Mas para o capitão "sentimento" é uma outra palavra para sentença. Isso exime Bolsonaro de qualquer tipo de exame. A começar pelo auto-exame. Há de tudo em Brasília, menos culpados no reflexo do espelho do Palácio da Alvorada.
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