Expliquemos. Sístole e diástole são dois estágios do ciclo cardíaco nas pessoas. Sístole é o da contração, em que o sangue é bombeado para os vasos sanguíneos. Diástole é a fase de relaxamento e faz com que o sangue entre no coração.
O general Golbery do Couto e Silva, em 1980, usou dois conceitos para explicar o término dos anos de chumbo. Pregava que os militares, após a contração, fariam a transição para a democracia pela diástole, de forma organizada.
Pois bem, o Brasil atravessa julho sob muita sístole. As tensões envolvem os três Poderes, órgãos como Ministério Público, Receita Federal, Coaf, OAB e outros.
E se acentuam entre o Executivo e a esfera política na reforma da Previdência, em virtude do “certo desprezo” de Bolsonaro ao presidencialismo de coalizão. Rejeita ouvir o confessionário dos políticos. (E aí se parece com a ex-presidente Dilma). E mais, despreza o esforço do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao mobilizar a Câmara a votar assuntos de interesse do Executivo. Maia responde com veemência. A equipe econômica reclama da desidratação do projeto da Previdência pela Câmara, mas esquece que o próprio Bolsonaro defendeu privilégios para o pessoal da segurança.
As falas presidenciais são fios desencapados de curtos-circuitos. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”. Ou: “A economia vai às mil maravilhas”.
A indicação do filho para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA é outro. Se passar no Senado, será por articulação da “velha política”, que ele execra.
A pauta do Executivo recebe sinais contrários da sociedade, como a das armas. Outros projetos do governo são considerados inconstitucionais.
Na frente externa, países reclamam da política ambiental do governo e do desmatamento. Bolsonaro responde: ninguém cuida tão bem de seu meio ambiente como nós.
Há tensão entre o STF e o Ministério Público por causa de decisão do ministro Dias Toffoli de condicionar todas as investigações à autorização judicial. Essas investigações partem principalmente do Coaf e da Receita, que apuram movimentações suspeitas. Para o MP, é duro golpe na Lava Jato.
Há tensão entre o Executivo, o Legislativo e o MP por causa da Lava Jato. Políticos querem minar a operação e o Executivo tenta manter o prestígio do ministro Sérgio Moro.
Na reforma tributária, as tensões começam com os projetos em pauta: um do ex-deputado Luiz Carlos Hauly, outro do relator e deputado Baleia Rossi, o terceiro de Marcos Cintra, chefe da Receita, defendido por Paulo Guedes, e um quarto do movimento Brasil 200. A sociedade não quer de novo a CPMF; Bolsonaro diz que ela não volta.
Há tensão entre Executivo e conselhos federais profissionais, como a Ordem dos Advogados do Brasil. O governo quer acabar com a obrigatoriedade de inscrição dos profissionais em conselhos de classe.
Há conflito até para animar a economia, como no caso da liberação do FGTS. Não houve consulta à Caixa ou à construção civil, que usa os recursos para a moradia.
E assim, sob sístoles, o corpo nacional vive seu mês de julho.
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