Mas desta vez tudo deu errado. Primeiro os patrocinadores do museu pressionaram e exigiram o cancelamento do jantar – devido ao conteúdo populista de direita e misantropo das opiniões de Bolsonaro. Quando a cerimônia de premiação foi transferida para um hotel, os primeiros patrocinadores retiraram o apoio. Aí o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, entrou na discussão: o presidente brasileiro não era bem-vindo "por causa de seus pontos de vista homofóbicos e racistas".
Por causa da resistência, os diplomatas de Bolsonaro transferiram o evento para Dallas, no Texas, onde a visita de 24 horas do presidente brasileiro quase não chamou a atenção. De Blasio ironizou, afirmando que Bolsonaro é covarde demais para aparecer em Nova York.
A atitude do prefeito de Nova York pode ser explicada principalmente pelo ângulo da política interna. Como membro do Partido Democrata, ele quer polir sua reputação como um verdadeiro ativista dos direitos humanos. O fato de não hesitar em insultar o presidente democraticamente eleito do Brasil mostra, acima de tudo, como o Brasil perdeu força no exterior. Pois não se sabe de protestos de De Blasio contra a presença em Nova York de ditadores economicamente influentes do Extremo Oriente e do Oriente Médio.
Mas também nenhum defensor conservador de Bolsonaro nos EUA veio a público para se solidarizar com ele. Como um cão escorraçado, o presidente brasileiro teve que pegar seu prêmio na província americana. Nenhum representante político e de negócios de alto nível dos EUA conseguiu ser persuadido a comparecer à reunião no Texas.
O Brasil está perdendo rapidamente importância na política mundial. Embora isso não tenha começado com a posse de Bolsonaro, sua presidência está acelerando esse processo. A influência internacional do Brasil começou a diminuir há cerca de cinco anos, juntamente com o declínio da economia brasileira. Até então, o Brasil se valia de sua soft power para conseguir alcançar suas metas em política externa – em contraste com o hard power da Rússia, dos EUA ou da China.
Joseph Nye, um especialista americano em relações internacionais, cunhou os termos: segundo ele, um país trabalha com hard power quando impõe sua liderança global sobretudo através de sua força econômica, financeira e militar. Os diplomatas do Brasil tradicionalmente trabalham com soft power – nos anos 2000, reforçado por sua forte presença como a oitava maior potência econômica e provedora de alimentos para o mundo, como um importante fornecedor de matérias-primas industriais e energia.
O Brasil convencia seus parceiros de negócio com a credibilidade de seus diplomatas, com sua imagem positiva de uma cultura tropical multiétnica capaz de superar contrastes – entre negros e brancos, pobres e ricos, desenvolvidos e subdesenvolvidos. No debate climático e no comércio mundial, o Brasil alcançou surpreendentes êxitos diplomáticos porque seus diplomatas conseguiram forjar alianças – através dos continentes e entre países industrializados, emergentes e em desenvolvimento.
Mas o soft power do Brasil vem desacelerando há algum tempo: por um lado, porque o país se tornou, no auge de seu sucesso econômico, há dez anos, cada vez mais um concorrente dos países industrializados nos setores agrícola, de energia e de matérias-primas – potência econômica não combina bem com soft power tropical. Com o declínio econômico, o poder de persuasão do Brasil perdeu ainda mais força: um soft power sem dinâmica econômica também não é convincente.
Agora, a perda de imagem do Brasil se acelerou: o presidente Bolsonaro continua, na sua política interna e externa, a polarização que prometeu na campanha eleitoral – e por causa da qual muitos brasileiros votaram nele. Com a sua clara opção por um esquema amigo-inimigo na política externa, nenhuma aliança global surpreendente pode mais ser forjada. Os brasileiros terão que se conformar com o fato de que não mais serão, como no passado, recebidos em todos os lugares de braços abertos.
Deutsche Welle
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