Numa conta que inclui, além dos desempregados, as pessoas que trabalham menos do que gostariam ou simplesmente desistiram de procurar uma ocupação, o flagelo da falta de trabalho atinge 27,9 milhões de pessoas —ou quase três vezes a população de Portugal. Bolsonaro, evidentemente, não é responsável pelo desemprego. Mas ele é culpado pela perda de tempo. Se não sair do lugar, Bolsonaro logo será a cara da crise.
Na economia, a cara do governo deveria ser não o desemprego, mas a prosperidade que o liberalismo do Posto Ipiranga Paulo Guedes seria capaz de prover. A estratégia parecia clara: engolir todos os sapos e aproveitar o impulso das urnas para aprovar rapidamente a reforma da Previdência, que traria um surto de crescimento. A reforma não saiu do lugar. E começou a soar o alarme da impopularidade. A aprovação à gestão Bolsonaro caiu 15 pontos, diz o Ibope.
O principal atributo da ascensão de Bolsonaro, impulsionada pelo antipetismo, foi a ideia de que seria possível romper as expectativas anteriores. Num país traumatizado pela corrupção e pela ruína econômica, vendeu-se a ilusão de que nada seria como antes. Mas o novo governo, já com aparência de pão dormido, não consegue transmitir uma simbologia positiva. Sua marca, por ora, é a confusão. A boa notícia é que Bolsonaro dispõe de tempo. A má notícia é que, para os brasileiros que não conseguem encher a geladeira, o tempo dói. No relógio do desempregado, os ponteiros que Bolsonaro atrasa são espadas.
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