sábado, 2 de fevereiro de 2019

Filme da explosão da barragem de Brumadinho é do horror mais absoluto

É o mais apavorante dos filmes de terror jamais realizado e isto não é o início de uma crítica de "O massacre da serra elétrica", "A noite dos desesperados", "It" ou qualquer outro título que os especialistas em cinema já tenham declarado nas listas sobre os mais apavorantes de todos os tempos. O filme da explosão da barragem de 

Brumadinho, filmado pelos próprios assassinos, é do horror mais absoluto.

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Nem Hitchcock, nem Brian de Palma, nem Jack Nicholson com o machado vagando pelos corredores do hotel de "O Iluminado", nada passa mais desespero a qualquer espectador da história do cinema do que a cena dos carros de Brumadinho quando percebem a torrente de lama que se aproxima. Seus motoristas viram para um lado, rodopiam para o outro, e meia dúzia de segundos antes do ato final percebem que não sobreviverão. A lama que inicialmente vinha apenas pela frente já fez a volta, cercou os carros por todos os lados e não resta a eles se não a entrega à mais terrível das mortes.

Desta vez, não é o cinema catástrofe feito com miniaturas em Hollywood, com tudo reproduzido a uma exatidão impressionante e com as câmeras certas para dar a ilusão ao espectador no cinema de que a vida humana não vale nada e a qualquer momento a grande tragédia se abaterá sobre os homens. Desta vez, o pavor é de verdade. É tudo real o que está divulgado pela Vale. No canto à direita do filme, o trem com mais de uma dezena de vagões, sabe-se lá quantas pessoas dentro, é composto do mais concreto ferro, das mais exasperadas toneladas de aço, e ele vai sendo arrastado pela correnteza de dejetos, como se fosse um trem de plástico da Estrela.

A bruxa de Blair, "Carrie, a estranha", ou "Chuck, o boneco assassino", são criações de artistas geniais para quem gosta de pagar ingresso e se sentir a poucos passos do grande susto do momento fatal. O diretor do filme de Brumadinho não é Stanley Kubrick, o genial manipulador de sentimentos. É a Vale. Como se fosse um Hitchcock, que desenhava todas as cenas antes de realizá-las, a mineradora sabia que tudo aquilo poderia acontecer e que, no entanto, Brumadinho não era um set de filmagem. Mesmo assim não tomou providências. Deixou que o filme rolasse. No caso do diretor de cinema de Hollywood, a palavra mágica é "ação". Em Brumadinho, o que acionou a cena trágica foi a falta de ação.

É possível ver movimentação de vítimas tentando escapar do mar de rejeitos.

E eis que a câmera em cima do guindaste começa a filmar o horror da lama escorrendo, uma tomada mais apavorante do que todas as de "O inferno na torre", "Armageddon" ou de outro clássico do cinema catástrofe. Semana passada, o Brasil lamentou não ter qualquer filme concorrendo ao Oscar. Infelizmente, já temos. O terror é nosso.

Joaquim Ferreira dos Santos

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