Ainda é cedo para dizer como se sairá o presidente Bolsonaro nesse quesito, mas se o Bolsonaro-candidato e o Bolsonaro-presidente-eleito são uma pista, teremos muita polêmica e muitos malentendidos pela frente, com o risco concreto de desgastes gratuitos. Presidentes não têm assessoria de comunicação apenas para responder a eventuais perguntas da imprensa ou para organizar coletivas, mas também para conter confusões onde elas podem, e devem, ser evitadas.
Espero sinceramente que acompanhar o Twitter do presidente Bolsonaro seja aventura menos trepidante. E espero que ele, seus filhos e seus assessores entendam que a conta usada por um presidente para comunicar atos de Estado não é a mesma coisa que uma conta pessoal para manter contato com os colegas.
Um pouco antes do Natal, Bolsonaro bloqueou jornalistas do “The Intercept”, uma publicação on-line que não faz segredo dos seus sentimentos a respeito do novo presidente. Independentemente do que ele ache ou deixe de achar do jornal, não pode mais fazer isso. Um presidente não pode sonegar informação pública a quem quer que seja, muito menos a jornalistas. Também não pode tapar os ouvidos a vozes dissonantes — que é, essencialmente, o que um bloqueio permite.
O presidente de um país é o presidente de todos os seus habitantes. Se o meio de comunicação do presidente com o povo é o Twitter, ele — ou quem quer que atualize a sua conta — tem de estar disposto a se comunicar com todos e aceitar os comentários de todos.
Essa questão já foi resolvida nos Estados Unidos, onde uma juíza federal determinou que o acesso público à conta de Donald Trump está protegido pela Primeira Emenda da Constituição, aquela que trata da liberdade de expressão. Bloquear este acesso seria, portanto, equivalente a um ato de censura.
Lá como cá, um presidente não é um cidadão como outro qualquer. Se quiser ter a liberdade de só se comunicar com quem quiser, deve ter uma conta pessoal onde se abstenha de anunciar nomeações de ministros ou decisões governamentais.
Dito isso, vai ser interessante ver como Bolsonaro vai se comportar no Twitter daqui para a frente. Lembrando que a palavra “interessante” tem vários — e interessantes — significados.
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