Mas não lhe faltaram palavras para explorar – para quê? – o atentado que sofreu e que, como disse, foi executado pelos “inimigos da pátria, da ordem e da liberdade”. Na verdade, o crime foi obra de uma única pessoa, como mostram as investigações criminais. Depois, no parlatório, Bolsonaro teve a desfaçatez de dizer que o País estava, naquele momento, se libertando do socialismo e, tirando a bandeira nacional do bolso, num gesto teatral, garantir que aquele símbolo nunca seria manchado de vermelho – exceto o sangue derramado para garantir a pureza da pátria. A que caminhos o presidente pretende levar a Nação, com afirmações tão fora da realidade?
E o mais estranho é que, depois desse rompante aparentemente sem propósito, Bolsonaro declarou ter montado “nossa equipe de forma técnica, sem viés político, que tornou o Estado ineficiente e corrupto”. De fato, é preciso que o novo governo atue de forma técnica, não ideológica. Mas é inegável que, nos últimos meses, alguns indicados para os Ministérios têm manifestado parca consistência do caráter técnico e isento de ideologias que deveriam ter na atuação governamental. Num arroubo que lembrou a última experiência de governo do PT, Bolsonaro sugeriu “um pacto nacional entre a sociedade e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário na busca de novos caminhos para o novo Brasil”. E deixou a proposta no ar, como se não fosse tarefa intransferível dele dar-lhe contornos e conteúdo sólidos.
A realização das reformas estruturantes – “essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas”, como lembrou Jair Bolsonaro – é uma obra conjunta dos Três Poderes. Foi o que acertadamente lembrou o presidente do Senado, Eunício Oliveira, em seu discurso de encerramento da sessão do Congresso. “É no Parlamento que o diálogo bem executado leva a boas soluções”, lembrou.
O presidente do Senado também ressaltou que o novo presidente não encontra um país devastado. “Vossa Excelência está recebendo o País com diversos ajustes feitos aqui nessa Casa”, disse Eunício. Ao relembrar o muito que se fez desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff para retirar o País da crise econômica gerada pelo lulopetismo, o presidente do Senado fez merecida homenagem à “perseverança política e pessoal do presidente Michel Temer”. É de justiça que Jair Bolsonaro reconheça que suas tarefas serão muito mais amenas em razão do trabalho feito ao longo dos últimos dois anos.
Além de descer do palanque, o presidente Bolsonaro precisa colocar os pés na realidade. O discurso populista é comprovadamente incapaz de assegurar os bons resultados que o País demanda. O Brasil, já dissemos nesta página, tem esperanças no governo Bolsonaro. Mas cabe a ele, e só a ele, transformar essas esperanças num Brasil próspero e sem divisões.
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