O mesmo serve para a redução da maioridade penal. Tem razão o eleitor em não se conformar com um delinquente juvenil matar e continuar solto: impune e ameaçando. Mas universalizar a redução da maioridade pode ampliar a criminalidade: a cadeia será a universidade dos pequenos delinquentes para depois cometerem crimes maiores. A solução é construir uma sociedade pacífica sem armas nem raiva; graças a um longo projeto de pacificação nacional, onde o principal vetor será a educação. Para enfrentar a violência imediata, é preciso fortalecer a polícia, valorizar o policial. Ao armar a população, estamos passando a mensagem de que a polícia é ineficiente, incompetente e desnecessária. Isto é como ver a Terra plana, olhando apenas para o horizonte.
A diferença entre a “razão” e o “certo” também aparece nos demais problemas. Queremos resolver os problemas do desemprego, da concentração de renda, da baixa produtividade, da persistência da pobreza, mas, no lugar de iniciarmos o processo de redondear o Brasil por meio da necessária revolução — para termos uma educação de base com qualidade e igual para todos —, preferimos soluções simplistas. O problema é que, para redondear os problemas, seria preciso eleger políticos que acreditem que o Brasil é complexo, é redondo, e digam isso aos eleitores, desde a campanha. Mas para o eleitor é mais obvio e crédulo ver o Brasil plano e votar com a razão do horizonte curto, mesmo que as propostas escolhidas não resolvam, mas iludam, como a visão da Terra plana iludiu por milênios.Cristovam Buarque
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