Como homem da Bíblia, Deus pôs Bolsonaro perante uma prova de fogo com motivo do suposto escândalo de corrupção que atinge seu filho Flávio através de um de seus assessores. Algo que lhe deve ter feito recordar um dos episódios mais enigmáticos e emblemáticos com que Javé quis provar a fé do patriarca Abraão, considerado como o “pai dos crentes”. Pediu-lhe, como prova de sua fé, que sacrificasse seu filho Isaac. É talvez a cena mais horripilante de todo o Antigo Testamento, narrada em Gênesis, 20. Abraão se encontrou frente ao dilema de oferecer a Deus o sacrifício do seu filho, que além do mais era inocente, ou quebrar seu pacto de fé nele. Escolheu ser fiel a Deus e decidiu sacrificar o seu “filho amado”. Deus premiou sua fé, e um anjo deteve seu braço antes da execução.
Bolsonaro está sendo posto à prova pelo Deus da Bíblia. Pede-lhe que, se for preciso, sacrifique seu filho Flávio ao invés de profanar sua fé na luta contra a corrupção, que ele jurou pôr acima de tudo. Como garantia de seu empenho, convidou para ser ministro o mítico fustigador da Lava Jato, o duro juiz Sérgio Moro. O presidente da Bíblia sabe que seu compromisso contra a corrupção foi fundamental para sua eleição. Quebrá-lo, antes ainda de tomar posse do cargo, equivaleria a uma traição sua a milhões de seguidores.
Tanto sabe disso que, na quarta-feira passada, dirigindo-se como de costume à sociedade através das redes sociais, o capitão confessou que não está disposto a ser “condescendente com nenhum erro”, custe o que custar. Confessa que “lhe dói o coração”, mas que “nem com ele nem com seu filho” pode ser "condescendente com o erro”. E isso porque, como para Abraão sua fé em Javé era inquebrável, a ponto de estar disposto a sacrificar seu filho, para Bolsonaro, afirmou ele, “o que há de mais firme é o combate à corrupção”, que havia sido um pacto de fé com seus eleitores.
Estará Bolsonaro, o presidente da Bíblia, disposto, se Deus pedisse, ou melhor, se a Justiça, desta vez a humana, pedisse, a sacrificar seu próprio filho em nome de seu compromisso de fé com seus eleitores? Ou espera que, como com Abraão, Deus acabe lhe fazendo o milagre de não precisar sacrificar o seu filho? A Bíblia, o talismã sagrado dos seguidores de Bolsonaro, colocou o novo presidente não só frente a um dilema bíblico, mas também diante de um hamtletiano ser ou não ser fiel a suas promessas e a sua consciência.
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