Mas a escolha do ministro das Relações Exteriores do futuro governo Bolsonaro não poderia ter sido mais desastrada, a começar de como ele chegou a oposto máximo da carreira depois de nomeado embaixador há pouquíssimo tempo, sem nunca ter chefiado uma embaixada.
Mas Ernesto Araújo, diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos, é uma surpresa desagradável, que indica, pela primeira vez na montagem do Ministério, uma decisão de fazer na política externa exatamente o que criticava nos governos petistas, com sinal trocado.
O secretário-geral do Itamaraty no começo da gestão de Celso Amorim, considerado o ideólogo da política petista de relações internacionais, Sebastião Pinheiro Guimarães, considerava que o futuro da diplomacia brasileira estava na África, e taxava os Estados Unidos de desimportante como posto de carreira. Ernesto Araújo coloca Trump acima de tudo e Deus acima de todos.
É preocupante sua visão mística e religiosa do papel do Ocidente no mundo, em artigo que publicou recentemente na revista “Cadernos de Política Exterior”, da Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty. No seu blog, ele, discípulo de Olavo de Carvalho, assumiu um apoio aberto a Bolsonaro, e foi através de André Marinho, filho de Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro, que chegou ao núcleo duro do bolsonarismo. Sabatinado pelos filhos de Bolsonaro, não passou no teste, prevalecendo a opinião do filho de Paulo Marinho.
André, que tem o dom da imitação e diverte quem o vê mimetizando Trump e Bolsonaro, foi quem fez a tradução do telefonema que Bolsonaro recebeu de Trump depois da vitória. Ernesto Araújo se equipara ao Bolsonaro dos velhos tempos quando fala do PT, que chama de “Partido Terrorista”.
Mistura alhos com bugalhos quando diz que um novo governo petista seria “novo regime, um império do crime, apoiado no conluio entre as oligarquias nacionais e num novo eixo socialista latino-americano, sob os auspícios da China maoísta que dominará o mundo”. O eixo socialista apoiado por uma China maoísta que vai dominar o mundo épura teoria da conspiração, mas mostra de onde Bolsonaro tirou a ideia de que a China está comprando o Brasil.
Que o eixo socialista ganharia força coma vitória do PT, não há duvida. Que a China será a maior potência econômica do mundo dentro em pouco, não se discute. Mas que a China ainda seja maoísta, acho que nem o presidente Xi Jinping tem muita certeza disso, embora tenha ressuscitado há dias o objetivo da autossuficiência, desta vez para a tecnologia e inovação. Esse conceito maoísta surpreendeu os próprios chineses, e foi retirado da versão oficial de seu discurso.
Mas nosso futuro chanceler vê Trump como nada menos que um Deus, que vai salvar o Ocidente. Segundo ele, a visão do Ocidente proposta por Trump não é baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais. Em seu centro, está não uma doutrina econômica e política, mas o anseio por Deus, o Deus que age na História.
Segundo nosso futuro chanceler, o Brasil necessita refletir e definir se faz parte desse Ocidente, como resume a apresentação de seu artigo, que diz que é necessário recuperar aspectos históricos da simbologia nacionalista e da identidade ocidental. Nesse contexto, a exemplo de Trump,o futuro chanceler achaque o espírito ocidental estaria sendo mitigado por um apolítica globalista, eé preciso reforçara herança histórica, cristã, cultural, bem como o papel da família e do estado de direito a partir da tradição do liberalismo dos EUA e de seu destino manifesto.
No seu blog ele defende que deixemos “de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália. Não mais faremos acordos comerciais espúrios ou entregaremos o patrimônio do Povo brasileiro para ditadores internacionais.”
Ele crê que “as forças antiocidentais”, externas ou internas, “minarão nossa coragem, solaparão nosso espírito e enfraquecerão nossa vontade de defendera nós mesmos e nossas sociedades”. Para ele, o problema não está no terrorismo, nem muito menos na diminuição da competitividade, mas no desaparecimento da vontade de ser quem se é, como coletividades identificadas com um destino histórico e uma cultura viva.
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