minhas frases. minhas regras,
Tenho meus trinta e oito carregados até a boca. Muito cuidado. Cidadão amado até os dentes. A qualquer momento, uma fala perdida pode atingir um inocente desavisado. Por favor, retirem as crianças do texto.
Se a vida começa mesmo aos quarenta (tenho fé que comece) faltam vinte e quatro meses para o início da minha verdadeira jornada. Ainda que eu já mal consiga parar em pé. Quer dizer que venho correndo, alucinadamente, por esses dias e noites, durante esse tempo todo, só para chegar ao ponto de partida? É isto, mesmo, produção?
Com meus trinta e oito carregados, não posso mais cometer alguns enganos, nem correr certos riscos. Tampouco, desperdiçar munição. Já aprendi que espoleta molhada nega chumbo. Que bala dumdum não é guloseima. Que algumas verdades são barris de pólvora. Boatos, granadas de mão. Mentiras, morteiros. Falsas notícias são armas de destruição em massa. E que os olhares da minha senhoura são condutores elétricos e têm efeito anestésico sobre este pobre moço.
Mas o que eu queria, mesmo, pra enfrentar a guerra diária, como proteção pessoal, era um colete à prova de malas. Tipo legítima defasa, sabe? Os malas, que são diversos, variados, surgem nos locais mais improváveis e estão em todos os lugares, não me atingiriam com suas inconveniências letais. Livre do risco de um mala traçante, poderia abrir mão da estratégia usual: fazer-me de morto.
Da guarita das minhas lembranças, espio, agora, eu menino. Tenho o porte (autorização da justiça do meu pai) de uma funda de galho de goiabeira e um saco de bolinhas de cinamomo. Faço a patrulha do bairro com minha viatura discreta de aro vinte e buzina fon fon. Seguro. Altivo. Destemido. Muito mais leve e confiante. Mais relaxado. Trocava na hora, meus trinta e oito e esta corrida insana, por aquela forquilha certeira e minha bike com rodinhas.
Tiago Maria
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