sábado, 18 de agosto de 2018

A permanente sordidez na política brasileira

O suicídio de Getúlio Vargas foi a tragédia maior da política brasileira, porque ele não suportou as agressões dos adversários nem quis fomentar a crise política que incendiava o país naquele tempo. Era uma figura polêmica com perfil autoritário, mas seus inimigos não mediam esforços para desgastá-lo, depois de ter retornado ao poder por eleição direta, em 1951. A pressão aumentou bastante após o atentado na rua Tonelero, no dia 5 de agosto de 1954, com envolvimento de seu irmão Benjamin Vargas e do chefe de sua segurança, Gregório Fortunato. O jornalista Carlos Lacerda foi ferido na perna, e o major Rubens Vaz morreu, provocando reação da Aeronáutica e clamor dos principais jornais, principalmente a “Tribuna da Imprensa”, cujo proprietário era alinhado à União Democrática Nacional (UDN).

Em sua carta-testamento, Vargas registrou: “O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”. Replicada exaustivamente, nas horas seguintes, pelas emissoras de rádio, gerou comoção popular e aversão pelos detratores do político. Milhares de pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro, depredando as sedes dos jornais e o prédio do Ministério da Aeronáutica. Uma multidão acompanhou o féretro até o aeroporto. A família não aceitou as honras fúnebres de chefe de Estado nem o avião da FAB para a viagem até o Rio Grande do Sul, onde ocorreu o sepultamento.


Esse presidente era visto como “pai dos pobres” porque sistematizou a previdência social e a legislação trabalhista, melhorando as condições da classe trabalhadora. Havia criado também, pouco tempo antes, a Petrobras e a Companhia Siderúrgica Nacional, incrementando a industrialização.

Essa tragédia não extinguiu, entretanto, a sordidez na política brasileira, pois, um ano depois, os mesmos adversários de Getúlio Vargas fizeram de tudo para impedir a posse de Juscelino Kubitschek na Presidência da República. O vice-presidente Café Filho, que havia assumido o cargo com sua vacância no dia 24 de agosto de 1954, afastou-se porque adoeceu, e o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, foi seu sucessor constitucional. Este, mesmo sendo correligionário de JK, aliou-se aos udenistas para viabilizar aquele golpe. O ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, destituiu-o, então, do cargo, três dias depois, e deu posse ao presidente do Senado Federal, Nereu Ramos, para que governasse, sob estado de sítio, e passasse a faixa presidencial ao eleito, no dia 31 de janeiro de 1956. Irritados com esse desfecho, oficiais da Aeronáutica, sob a liderança do major Haroldo Veloso e do capitão José Chaves Lameirão, instalaram-se, no dia 10 de fevereiro de 1956, na base aérea de Jacareacanga para desestabilizar o novo governo.

A vilania entre os políticos tem sido mantida desde então, prejudicando sempre o país.

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