Darcy Ribeiro analisou, na série em dez segmentos denominada “O Povo Brasileiro”, nossas origens e cinco grupos regionais existentes no país. O segundo episódio refere-se à Matriz Tupi, apresentando fotos e vídeos de vários períodos sobre o cotidiano de tribos remanescentes dos povos que viviam aqui antes da colonização portuguesa. Mostra crianças em diversas atividades e adultos que constroem malocas, trançam redes, preparam alimentos, dançam e cultivam plantas comestíveis e terapêuticas, sem visar à acumulação para estocagem ou comercialização. Querem apenas a provisão momentânea, porque farão o mesmo nos dias vindouros, sem segmentar o tempo em horas e calendários.
A produção foi dirigida por Isa Grispum Ferraz, que contou com o narrador Matheus Nachtergaele. O geógrafo Aziz Ab’Saber e o jornalista Washington Novaes expuseram conceitos muito interessantes sobre a terra sem males, a profunda integração com a natureza, o saber sem propósito de oprimir o outro, a autossuficiência para resolver todos os problemas, a vida após a morte, a interseção entre a realidade e o mundo dos sonhos, o permanente agradecimento à divindade por tudo que existe em seu ambiente; enfim, a postura singular de um povo que não dispõe de escrita, não imagina a propriedade privada de qualquer bem e não instituiu o Estado opressor.
É difícil para um civilizado entender um sistema cultural tão diverso, em que as pessoas são felizes dispondo de instrumentos aparentemente rústicos e infraestrutura sem luxos. O vídeo escancara, entretanto, singela amostra das chamadas 240 tribos indígenas que continuam existindo no Brasil, em vários níveis de aculturação, sendo que 80 se mantêm isoladas, na Amazônia. O tronco linguístico Tupi estende-se do Maranhão ao Rio Grande do Sul, na porção leste do país. Pertence a ele o grupo Urubu-Kaapor, estudado por Darcy Ribeiro entre 1949 e 1951, inspiração maior para que o antropólogo construísse sua teoria sobre as bases para a formação do povo brasileiro. Além dos ameríndios, somos o resultado das matrizes Lusa e Africana, descritas em outros episódios da série.
Novaes ressaltou particularidades desses povos sem paralelo em nosso mundo, com forte presença da poesia, da música, da dança e do vinho no dia a dia. Apreciam festejar os acontecimentos, cultivando a estética corporal por pinturas em elaborados desenhos e adereços obtidos em seu meio. Desenvolvem também conexões espirituais com a terra, conhecendo a natureza em detalhe para garantir sua subsistência sem devastar sua área. Os pesquisadores reconhecem, atualmente, como essas tribos têm sido guardiães da biodiversidade diante de ações nocivas de seringueiros, madeireiros e mineradores, que dizimam tribos em assassinatos ou por contaminação de doenças para as quais os índios não têm anticorpos.
Aproveitamos pouco da sabedoria Tupi, ignorando que poderíamos construir uma sociedade mais justa se nos tivéssemos inebriado do sentimento de que ninguém pode dar ordens a outro, instalando a opressão.
Gilda de Castro
A produção foi dirigida por Isa Grispum Ferraz, que contou com o narrador Matheus Nachtergaele. O geógrafo Aziz Ab’Saber e o jornalista Washington Novaes expuseram conceitos muito interessantes sobre a terra sem males, a profunda integração com a natureza, o saber sem propósito de oprimir o outro, a autossuficiência para resolver todos os problemas, a vida após a morte, a interseção entre a realidade e o mundo dos sonhos, o permanente agradecimento à divindade por tudo que existe em seu ambiente; enfim, a postura singular de um povo que não dispõe de escrita, não imagina a propriedade privada de qualquer bem e não instituiu o Estado opressor.
É difícil para um civilizado entender um sistema cultural tão diverso, em que as pessoas são felizes dispondo de instrumentos aparentemente rústicos e infraestrutura sem luxos. O vídeo escancara, entretanto, singela amostra das chamadas 240 tribos indígenas que continuam existindo no Brasil, em vários níveis de aculturação, sendo que 80 se mantêm isoladas, na Amazônia. O tronco linguístico Tupi estende-se do Maranhão ao Rio Grande do Sul, na porção leste do país. Pertence a ele o grupo Urubu-Kaapor, estudado por Darcy Ribeiro entre 1949 e 1951, inspiração maior para que o antropólogo construísse sua teoria sobre as bases para a formação do povo brasileiro. Além dos ameríndios, somos o resultado das matrizes Lusa e Africana, descritas em outros episódios da série.
Novaes ressaltou particularidades desses povos sem paralelo em nosso mundo, com forte presença da poesia, da música, da dança e do vinho no dia a dia. Apreciam festejar os acontecimentos, cultivando a estética corporal por pinturas em elaborados desenhos e adereços obtidos em seu meio. Desenvolvem também conexões espirituais com a terra, conhecendo a natureza em detalhe para garantir sua subsistência sem devastar sua área. Os pesquisadores reconhecem, atualmente, como essas tribos têm sido guardiães da biodiversidade diante de ações nocivas de seringueiros, madeireiros e mineradores, que dizimam tribos em assassinatos ou por contaminação de doenças para as quais os índios não têm anticorpos.
Aproveitamos pouco da sabedoria Tupi, ignorando que poderíamos construir uma sociedade mais justa se nos tivéssemos inebriado do sentimento de que ninguém pode dar ordens a outro, instalando a opressão.
Gilda de Castro
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