sábado, 17 de fevereiro de 2018

Brasil, um retrato 3x4 do subdesenvolvimento

Em 1987, hospedei um suíço que já tinha visitado Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Nunca mais o vi, mas lembro-me de suas palavras ao se despedir: “Estou encantado com seu país, mas fiquei assustado com a desigualdade social; em minha terra, ninguém recebe menos de US$1.000, enquanto poucos ganham acima de US$10 mil”. Os pesquisadores em ciências sociais sabem que justamente essa pequena variação entre o mínimo e o máximo na renda mensal decorre de qualificações equivalentes para o trabalho e do respeito pela produção do outro, consolidando um mercado que dinamiza a economia, ao garantir o acesso de todos aos itens indispensáveis à vida. O Estado austero e eficiente provê os serviços básicos do mundo moderno e presta assistência adequada às categorias fragilizadas.

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Nos últimos dias, com o propósito de desgastar magistrados que têm punido políticos poderosos, houve uma onda de denúncias sobre auxílios previstos em lei para o Judiciário. Conseguiram, entretanto, esconder as mordomias de outros setores para não escancarar a caixa de Pandora, porque grassam, neste país, inúmeros privilégios a muitos que chegam ao poder, sugando preciosos recursos do Estado. Isso amplia o fosso social entre as autoridades e os brasileiros que custeiam a máquina pública. Apesar de razoável avanço tecnológico das últimas décadas, milhões de cidadãos continuam desnutridos; depauperados pelo trabalho braçal, deslocamento diário e casebre desconfortável; analfabetos e manipulados por demagogos; submissos aos xerifes de políticos regionais; doentes sem assistência médica; expostos à violência física e emocional; vulneráveis a doações-suborno e, sobretudo, desesperançados quanto ao futuro dos filhos.

Não é possível que haja prosperidade em país com expressivo número desses indigentes, diante de uma perdulária casta que, usando a própria caneta, cria sempre mais benefícios à custa do erário. O Poder Judiciário tem ainda mais condição para se impor, quando há algum questionamento, mas, certamente, os magistrados incomodam-se com a fabulosa renda de seus antigos colegas de faculdade, que vêm cobrando fortunas para assumir a defesa de nababos pegos nas investigações da Lava Jato. Esses honorários têm sido absurdos, mesmo diante de inúmeros profissionais liberais, que são bem-remunerados, considerando-se o setor produtivo como um todo.

Nossas disparidades de renda são, portanto, fomentadas diuturnamente, desencadeando condições iníquas para parcela significativa da população. Devemos nos lembrar do Rio de Janeiro, que tem um território equivalente ao da Dinamarca; de Sergipe, que é maior que Israel; e de Minas Gerais, cuja área supera a da Espanha em 82 mil km². Há outras 25 unidades federativas, permitindo que o Brasil seja o quinto país do mundo em extensão e em população. Mesmo assim, seus índices socioeconômicos mostram que mais de 100 milhões de cidadãos vivem na miséria e sem futuro.

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