Mas no Brasil a palavra esquerda perdeu todo o sentido quando o PT se rendeu à “governabilidade”. As alianças mais absurdas foram criadas. Políticos notadamente de extrema-direita aliaram-se a outros da esquerda. Alianças móveis que dependiam da votação de projetos, cargos e, segundo tantas delações, muita grana. A política de alianças já existia havia muito tempo. Partidos de esquerda muitas vezes se ligaram a políticos de direita, na esperança de um vislumbre de poder. Mas nunca antes neste país isso se tornou o pilar da governabilidade como foi no PT. Políticos de todos os matizes se ligaram. Com uma digna exceção: o PSOL. Gostem ou não, manteve sua integridade. A ponto de o deputado Jean Wyllys cuspir em Bolsonaro quando este elogiou um torturador no impeachment de Dilma.
Os partidos não têm projetos claros. Não sabemos se de fato são de esquerda, direita ou centro. Em minha opinião, a maioria segue o modelo do eu sozinho. O político faz tudo para se eleger. Acaricia com promessas. Eleito, não pensa mais nisso. Pensa, sim, no que é melhor para ele. Um cargo para o amigo? Uma obra feita por uma grande empreiteira etc.? Fato: o eleitor foi só um meio de chegar até lá. Chegou, vamos tratar da vida, botar uma grana lá fora. Nem esquerda nem direita gostam de fazer esgoto. Por quê? Não se veem os canos. Que propaganda pode-se fazer de uma obra subterrânea? Agora, gritar contra exposições, pretensamente defender a infância, censurar o sexo alheio. Isso, sim, dá votos.
Só que ninguém fala numa coisa. Enquanto os políticos fazem alianças, jogando aos ares os projetos de gestão do país, outra força toma conta. Vamos encarar a realidade. Em quantas áreas do país a polícia não consegue entrar? Na Rocinha, no Rio de Janeiro, até com intervenção militar, continua o tiroteio. Quero ver a polícia se impor, quem sabe, em Paraisópolis, em São Paulo. Há campos de plantação de maconha mais ao Nordeste, segundo soube. Áreas imensas que na prática não pertencem ao Estado brasileiro. Seus habitantes obedecem a outras leis, rígidas. Pagam outros impostos na forma de preços maiores para o gás, por exemplo. Mas têm a proteção que o Estado não dá. Alguém se portou errado? Tiro. Alguém agrediu quem não devia? Morte. Há uma lei a ser seguida.
Áreas inteiras do país, até em lugares nobres, pertencem a organizações como o PCC, Comando Vermelho. E todo mundo diz:
– É bandido.
Não é não. Seria impossível que eles se estabelecessem com tal segurança sem o apoio de políticos. Inclusive porque há, sim, os que são eleitos com o dinheiro do tráfico. Olhe para a frente. Que futuro se desenha para o país? Quando partes, mesmo pequenas daqui, não são dominadas pelo Estado, o que vem pela frente? Juro. Prefiro nem pensar.
Walcyr Carrasco
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