O último exemplo ainda está fresquinho na memória de todos: a portaria publicada na segunda-feira que muda o conceito de trabalho escravo e torna mais difícil a divulgação das chamadas "listas sujas" de empresas e pessoas físicas que praticam trabalho análogo à escravidão.
Depois de quase 14 anos de governos petistas, a legislação brasileira em diversas áreas foi mudando para ganhar os contornos dos governos mais à esquerda que venceram as últimas eleições – os dois mandatos e Lula e depois Dilma, que acabou afastada sem concluir o segundo.
A base parlamentar do governo Temer é muito semelhante à dos governos petistas – é engordada com os partidos conservadores do "Centrão", como PP, PR, PRB, PTB, por exemplo.
O que mudou radicalmente foi o comando. Antes era do PT, parceiro do PC do B, associado aos movimentos sociais. Agora, é o PMDB mais conservador e claramente liberal do ponto de vista econômico – basta ver que o norte econômico do governo está no documento "Uma ponte para o futuro", elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, sob Moreira Franco, um dos políticos mais próximos a Temer. E a agenda do governo tem sido cumprida, sobretudo nos capítulos relativo às privatizações.
Poucas semanas atrás, o governo baixou decreto e depois recuou extinguindo a Renca, a Reserva Nacional de Cobre na Amazônia, o que gerou grande polêmica.
Foi também uma decisão fruto de pressão de setores que apoiam o governo. Mas o governo não teve como mantê-la e desistiu de acabar com a reserva, prometendo retomar estudos e discussões sobre o assunto.
A propósito, uma das características do governo é surpreender com medidas duras sem qualquer discussão a respeito do assunto.
É por isso que o presidente mais impopular dos últimos tempos se mantém no poder e enfrenta agora sua segunda denúncia, desta vez por obstrução de justiça e organização criminosa, e ainda tem chances de sobreviver.
Enquanto ele estiver no Palácio do Planalto, fraco e sem condições de reagir às demandas que lhes são postas, melhor para parcela de sua base e de setores da sociedade que conhecem a linguagem dos parlamentares.
É de se esperar mais surpresas no "Diário Oficial" de cada dia. Enquanto houver Temer no Planalto, haverá cobranças e atendimento dessas demandas.
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