Uma semana depois, quase não lembramos dela. Sua memória escorregou das manchetes. Foi para o canto da página. E daí para a injustiça do esquecimento. Sua lembrança, e tudo o que poderíamos ter aprendido ao menos para dar sentido ao seu sacrifício já foi atropelado por outras, novas, e repetitivas notícias.
A verdade é que não haveria sentido em dar destaque a cada morte violenta no país. Ou melhor, faria sentido, mas talvez não fosse possível. No Brasil se mata por tudo ou qualquer coisa. Ou mesmo por nada.
Das 50 cidades mais violentas do planeta, 21 são brasileiras. São 60.000 homicídios por ano. 7 7 por hora. A maior parte das vítimas permanece anônima, soterrada pelos números. Fazendo sem notar a travessia de pessoa a estatística. Em destino sem qualquer distinção, condenado a ser um número em estudos, obscuros ou não, dormitando em gavetas.
Maria Esperança até mereceu atenção especial. Era turista, talvez a única coisa que a separe de todas as outras vítimas que acostumamos a aceitar sem nem mesmo lhes dedicar a atenção que merecem.
Maria Esperança se foi. Deixou para trás, fama efêmera em um local distante de casa, tão acostumado com selvageria que não é mais capaz de reconhecer no espelho a responsabilidade pelo caos.
Passados alguns dias, a memória de sua morte já se vai. Voltamos a rotina de conviver com a morte. O absurdo virou o normal. E se apagam outras Marias, ou Joãos, ou Pedros, ou Anas, ou Claras, e todos os outros nomes que já nem nos importamos de lembrar. Que não tem distinção. Não se chamam Esperança. Porque esperança, não há mais.
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