Não é pessimismo, é simples observação da realidade. Logo iremos ver, por exemplo, repetida pela terceira vez, uma com Dilma e duas com Temer, a votação para decidir se condenam ou absolvem um presidente. Será uma nova peça de teatro do absurdo. Podemos observar, se ainda tivermos paciência para ouvir, o vazio da linguagem de suas senhorias, a oferta de seu voto às suas famílias, a mentira da pós-verdade coberta pela emoção da pobreza de suas palavras. O verdadeiro Brasil parece não existir ou contar. Não conta o Brasil das pessoas normais que gostariam que as palavras significassem a verdade, que, por exemplo, fosse abolido o foro privilegiado, que é realmente um refúgio seguro contra os crimes dos políticos, privilégio que possuem hoje, no Brasil, 20.000 pessoas enquanto que nos Estados Unidos nem o Presidente da República conta com isso. Ou que o voto fosse livre e não obrigatório. Ou que as pessoas entrassem na política não para se enriquecer nem para acumular privilégios, mas para estar a serviço dos eleitores.
O Brasil precisa hoje de um banho de realidade contra as mentiras da pós-verdade, manuseadas pela linguagem dos políticos que é mais perigosa do que jocosa, porque, em sua grosseria está escondido o desejo de enganar principalmente a grande massa de pessoas com pouca cultura, fascinadas pelos discursos messiânicos dos novos ou velhos Godot, que são na verdade mais um fantasma da mídia do que uma realidade e uma solução. A sociedade brasileira moderna precisa abrir os olhos para não ser arrastada pela ilusão de que são os políticos, com suas mentiras ou meias-verdades, os únicos que podem tirar o país do poço em que ele foi jogado. É preciso uma reação inteligente, racional e não emocional da rua e dos meios de comunicação para saber distinguir entre aqueles que se apresentam como meros salvadores e aqueles que realmente sentem e se interessam pela vida das pessoas, cada dia mais ameaçadas e manipuladas.
Hoje existe no Brasil uma parte da sociedade mil vezes mais bem preparada do que a geração de seus pais. É uma reserva imobilizada, frente a uma porta fechada para impedir sua entrada na vida política. Uma parte da sociedade que seria capaz de entender o perigo da pós-verdade e o absurdo dos messianismos já desgastados. É dever de todos deixar que passem, abrir as portas do poder a eles e para isso é essencial que, quando chegar a hora de decidir nas urnas, seja punida a velha política que agora funciona como tampão para evitar a chegada de uma nova sabedoria. Votar de novo, por exemplo, nos caciques de sempre, sabendo que estão condenados ou são culpados de crimes de corrupção, seria a constatação de que o Brasil prefere esperar sentado a chegada de Godot. Ou que, no fundo, prefere e acha divertido se embalar na ambiguidade da pós-verdade, o novo maná dos políticos que se recusam a morrer.
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