No tempo em que uma caixeira do McDonald’s dos Estados Unidos atende a quatro clientes, uma brasileira atende a apenas um. É uma metáfora do nosso atraso — tecnológico, político e social.
No Brasil impera a cultura do desperdício de tempo, principalmente o alheio. Não só nas lanchonetes, nas caixas de supermercados, nas repartições públicas. Somos reféns da burocracia, da preguiça, do desprezo pelo outro, do exercício abusivo de pequenos poderes fiscalizadores, inspetores e autorizadores, criando dificuldades para vender facilidades, num Estado paquidérmico que espalha seus tentáculos paralisantes por toda a sociedade.
A reforma trabalhista, finalmente, vai acabar com a extorsão do imposto sindical obrigatório. Como é inexorável largar o osso, os sindicatos exigem que seja aos poucos, em alguns anos, para mamar mais um tempo. Emendas parlamentares querem que a reforma da Previdência seja feita em etapas lentas, graduais e seguras. Fim das coligações só em 2020; voto distrital misto, só em 2022. O tempo não para.
Processos apodrecem nos tribunais, crimes prescrevem, paletós envelhecem nas cadeiras das repartições, a impontualidade é hábito nacional, empresas gastam tempo e dinheiro para administrar impostos, a compra de tempo é fonte primária de corrupção.
Nelson Rodrigues dizia que dinheiro compra até amor verdadeiro, mas compra algo mais precioso: tempo. Sem amor verdadeiro até dá para levar, mas o tempo é vital, é vida passando.
Dinheiro pode comprar liberdade, independência, conforto, descanso, lazer, tempo de espera. Pode comprar vida com os melhores médicos, remédios e hospitais, já que não vale nada sem saúde para usá-lo. Tempo é o maior bem que o dinheiro pode comprar. Mas não no Brasil, onde ele é esbanjado como nossos recursos naturais, fazendo os brasileiros passarem boa parte da vida... perdendo tempo. E dinheiro.
Se pudéssemos quantificar um valor, em dólares, do tempo que é desperdiçado no Brasil, teríamos os números tenebrosos do nosso atraso.
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