Jurista experiente, na cena atuando como advogado de si mesmo, Michel Temer não cita o nome do procurador nem faz acusações diretas; qualifica seu raciocínio de “ilação” com o objetivo de classificar como “ilações” bases em que se assentam a denúncia por corrupção passiva, a fim de desqualificar o trabalho da Procuradoria-Geral que chamou de “trôpego”. Em suma, abre uma guerra de vida ou morte contra o procurador Janot. O último a fazer isso, sem a mesma intensidade, foi o ex-deputado Eduardo Cunha. Temer e seus conselheiros parecem ter optado pelo caminho do perdido por um, perdido por mil.
Enquanto ele como politico pode dizer o que bem entende em seus discursos, o procurador não pode fazer o mesmo em suas peças acusatórias: precisa se ater aos fatos e enquadrá-los dentro da lei. De onde a chance de derrota na guerra que resolveu travar. Apenas para lembrar no caso de Cunha: se o então presidente da Câmara nada devesse à legalidade, o procurador nada poderia ter feito contra ele. Assim está o presidente da República: levanta hipótese alegadamente retórica, como aquela envolvendo Marcelo Miller, e distorce a realidade, como quando se refere à gravação periciada pela Polícia Federal.
De propósito deixa de lado o fato de que Miller não participou das negociações do acordo de delação, a não ser no estágio preliminar, cuja validade foi atestada pelo ministro Edson Fachin. Estaria ele, na ilação de Temer, envolvido no acerto de divisão de honorários? Intencionalmente também alude às interrupções existentes na conversa entre ele e Joesley como possíveis indicativos de fraude, mesmo diante da explicação da PF de que são cortes naturais decorrentes das características do aparelho de gravação.
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