sábado, 15 de abril de 2017

Por um país sério, eficiente e moderno

“O Brasil não é um país sério”. Esse veredito de Carlos Alves de Souza Filho é atribuído a Charles de Gaulle, porque os brasileiros invocam figuras mais ilustres para conferir peso maior às suas considerações. Foi uma injustiça ao presidente da França, que não faria avaliação desabonadora sobre outra nação, conforme reza a etiqueta internacional.

Tal afirmativa tem, entretanto, pontuado análises de deploráveis momentos de nossa história pelo seu cunho de verdade; vou, então, usá-la aqui, porque os escândalos de corrupção vicejam em todas as esferas do Estado. A lista apresentada pelo ministro Luiz Edson Fachin, no dia 11 de abril, mostrou, por exemplo, como as principais autoridades recorrem a expedientes ilícitos para conquistar postos-chave na administração pública e desviar preciosos recursos da comunidade em proveito próprio. O Brasil não é, portanto, um país sério, porque permite que tantas figuras proeminentes construam uma grande rede de saqueadores da pátria, sem que medidas efetivas sejam tomadas para coibir essas práticas e recuperar a riqueza nacional.



Sabíamos que a corrupção grassava em diferentes esferas do Estado, mas não imaginávamos que fosse tão extensa. Este país não é mesmo sério, porque essas autoridades não se penitenciam pelos seus crimes e vêm com argumentos irritantes para escapar das denúncias. Fazem, em seguida, ameaças públicas a promotores e juízes, como se fossem eles os criminosos, embora estes estejam agindo no estrito cumprimento de seus deveres funcionais para desbaratar quadrilhas espalhadas por toda parte. Como um Estado pode sobreviver à tamanha distorção de avaliação entre quem respeita a lei e quem é transgressor? Como os cidadãos comuns vão acatar o ordenamento jurídico de seu país para que haja preservação da integridade nacional?

O Brasil não é um país sério porque está permitindo que os parlamentares criem filigranas na legislação para se blindarem e permanecerem nos cargos, apesar de seus extensos prontuários na Justiça. Além disso, o presidente vai manter investigados no primeiro escalão, o que lhes garante ótimas oportunidades para bloquear os agentes policiais, intimidar testemunhas e destruir provas. Contando com a tutela do Palácio do Planalto, será, então, difícil apurar todos os fatos e definir as penalidades para esses poderosos. Além disso, podem surgir fissuras entre os Três Poderes, com riscos de ruptura institucional, em que os integrantes das teias do crime irão preservar a malversação da riqueza nacional e os desmandos no planejamento dos serviços públicos.

O Brasil não é um país sério porque custeia viagens ao exterior da ex-presidente da República para expor crises internas a partir de seu viés, ignorando o figurino de estadistas discretos e equilibrados. Ela fomenta, enquanto isso, o interesse dos países desenvolvidos pelas excentricidades dos nativos do Terceiro Mundo que continuam arredios aos preceitos da modernidade.

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