Fachin, com seu jeitão enigmático e meio tímido (como um verso de bolero cubano Anos 50) fez seu desabafo quase em sussurro, diante do grupo de jornalistas que o aguardava na chegada ao prédio do STF, em Brasília, no dia seguinte à intrigante sessão da Segunda Turma que o deixou aporrinhado e em aparentes dúvidas sobre o seu entorno.
Foi uma espécie de repentino "cair na real", amarga sensação de estar só , ou quase, entre seus pares. do ministro que agora, além de suas atribuições próprias, como membro da Suprema Corte de Justiça, carrega nas costas, também, o pesado e desafiante encargo de conduzir o processo da Lava Jato.
A súbita percepção do abissal descompasso dos seus afazeres com a imensa responsabilidade que lhe foi passada. Depois da prematura morte do ministro Teori Zavaski, no terrível desastre no mar da tão belo quanto simbolicamente montanhosa e sinistra costa de Paraty.
Este episódio já foi exposto e repisado, em narrativas e análises diversas, ao longo dos últimos dias. Mas o fato comporta diferentes análises, segue candente e ainda queima como ferroadas das antigas abelhas africanas (antes de serem amansadas, depois de repetidas experiências científicas realizadas em laboratórios e apiários da Bahia, depois que as "africanas" viraram uma praga ameaçadora e quase mortal) .
Não custa relembrar, em mais este texto de informação e opinião. Peço só um pouco de paciência (embora saiba que sobra pouca no país atualmente, de todos os lados), para cumprir norma básica de contextualizar fatos antes de emitir opinião, lição que aprendi nos livros do mestre Juarez Bahia, e nos muitos anos de trabalho sob o comando do premiado repórter (seis Esso de Jornalismo) e saudoso editor nacional do Jornal do Brasil.
Na quarta-feira, 26, com carradas de razão, Fachin estranhou e reagiu ironicamente, ao comentar os votos de colegas na decisão que mandou soltar dois presos da Lava Jato, um deles o empresário José Carlos Bunlai (notório amigo do peito de Lula e sua família em anos de poder e mando), simbólico exemplar desta triste história da formação de organizações criminosas de corruptos e corruptores, nos âmbitos público e privado, para saquear a Petrobras e o erário em muitas outras áreas, como o desfiar do novelo vai revelando a cada dia. Para Fachin, soaram como indicadores de afrouxamento de prisões no processo cavernoso.
No dia seguinte à preocupante sessão da Segunda Turma, o ministro relator da Lava Jato comentou, ao ser questionado pelos repórteres sobre as decisões: "Saí daqui ontem com vontade de reler o (Henrik Ibsen), "Um Inimigo do Povo". Mais não disse Fachin, (além do sorriso irônico que esboçou), nem precisava!
Na famosa peça teatral, o dramaturgo norueguês trata do drama de um homem que queria salvar a sua cidade, ameaçada por corruptos e ambiciosos poderosos que poluem o seu rio, mas vira um inimigo do povo. A obra referida pelo ministro, de 1882, considerada um marco na abordagem do tema da defesa do meio ambiente - ao ter como personagem principal um cidadão idealista em luta contra a corrupção - é, acima de tudo, "uma impiedosa crítica às elites, aos governos, aos partidos, à imprensa, e ao pensamento único", como já sintetizou um dos inúmeros analistas de "Um Inimigo do Povo" ao longo do tempo. "O cenário brasileiro sugere uma releitura dessa peça do velho Ibsen", aconselhou, ainda, o homem da Justiça, antes de encerrar a conversa com os jornalistas.
Pelo exemplo citado e recomendado, também atento e antenado leitor de clássicos do realismo literário.
Na parte que me toca, a revisitação ao livro da história do Dr Stockmann, médico da cidade do interior da Noruega, cuja maior fonte de renda vem da sua Estação Balneária, já está agendada. O farei, espero, logo depois que concluir a leitura do belo, pungente e a cada página mais surpreendente "A Menina que foi Vento - Memórias de Uma Imigrante", o recém lançado livro de memórias de Symona Gropper: a jornalista nascida na Romênia, detentora, com justiça, do reconhecimento como um dos melhores textos do Jornal do Brasil desde que ainda bem jovem ingressou no diário carioca de prestígio nacional, depois brilhante colega de trabalho, durante anos, na sucursal do JB em Salvador e , ainda mais recentemente, na redação de "A Tarde", na rápida passagem de Ricardo Noblat no comando do jornalismo do dia a cuterio baiano. Uma saga comovente e leitura essencial para estes dias loucos de tanta gente desterrada no mundo.
Ficam as duas sugestões de leituras para este feriado. Vivamente.
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