domingo, 5 de fevereiro de 2017

Pensar o futuro

Dever é defender o conjunto em que fomos criados e vivemos, a família, o bem-estar comum. E, se um pai se esforça para pôr o pão na mesa dos filhos a cada dia, preocupa-se também com a herança que deixará.

Bem por isso toma os cuidados para que os sucessores herdem um patrimônio confortável e administrável, e não dívidas impagáveis.

Hoje, infelizmente, o pão cotidiano ficou incerto e escasso. Pior, consolida-se para as próximas gerações a certeza inconteste de uma situação calamitosa. Já passou o momento de tomar medidas coerentes e mitigadoras, mas ao menos de evitar uma ruína avassaladora ainda dá tempo. O estrago está feito, limitar seu alcance ainda é possível.

Até então, não se instalou no Brasil uma preocupação sólida e difusa com a transferência de um conjunto explosivo para as futuras gerações, que deixará o país uma terra complicada e devastada.

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Os governos vivem tendencialmente o “carpe diem”, o tapa-buraco das contas públicas, recorrendo ao ilusionismo. Não se levanta a vista para o médio prazo para não entrar num pesadelo.

Para um governante, acabar um mandato sem ser linchado já está de bom tamanho. Aquela geração que agia como Sérgio Cabral, entre joalherias e viagens ao exterior, não é mais cogitada.

Explicar em claras letras à população que estamos falidos arrasa a reputação do corajoso. “Panis et circenses” continua sendo mais fácil que mostrar a crua realidade. Com isso, as medidas são empurradas, e o conjunto da obra fica cada vez mais assombroso.

A progressão dos déficits públicos é implacável. Os indicadores estão gritando para quem tem ouvido, sinalizam a perda de velocidade do avião e da cota.

Os vendedores de ilusões se apegam aos detalhes, aos direitos e aos derivados, mas não há mais como desconhecer que o déficit previdenciário, apesar de a população brasileira registrar apenas 14% de pessoas na faixa acima dos 60 anos, é espantoso.

A regra adotada nas aposentadorias públicas da União, dos Estados e dos municípios é um conto infantil com sabor de tragédia. Não há teto nem limite para os pagamentos, perdeu-se o atrelamento entre arrecadação e dispensação de benefícios. E a diferença ficará com quem?

Nenhum sistema desatrelado da sustentabilidade tem garantia de poder sobreviver para sempre. Chegará o momento da insolvência das “obrigações insustentáveis”.

Doa a quem doer, estamos em véspera da destruição do sistema público – com um PIB que cai e com o desemprego que não para de crescer. Sem sobras para investir, a depressão econômica continua a se agigantar.

O remédio, mesmo amargo, terá melhor efeito quanto mais pontual for a ministração.

Passou a hora de reformas corretas e realistas?

Enfrenta-se uma queda de arrecadação concomitante à incapacidade de se frear os gastos, exatamente num momento em que a população depauperada pelo desemprego e pela crise precisa de mais apoio.
Os Estados e os municípios, que criaram, por lei, seu regime previdenciário, com certeza não terão como honrar suas obrigações sem mudarem as regras e o atrelamento de receitas e despesas, hoje totalmente desencontradas.

Algo inadiável tem que ser feito para evitar a ruína que paira no horizonte. E, para que isso se possa realizar, deveria ser antecipado por um pacto que livre as tentativas e os acertos da demagogia. Afinal, o conjunto da nação e das próximas gerações é o que precisa ser preservado.

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