O líder convocou a reunião para fazer uma proposta: a união de todas as gangues, o que faria a “nova organização” se tornar mais poderosa que a força policial da cidade, na proporção de cinco meliantes contra um policial. “A cidade seria nossa, caras, ninguém faria nada sem a nossa permissão” - profetizou. Foi ovacionado – e, em meio à euforia dos presentes, que pareciam aprovar a ideia, o líder foi alvejado e morto por um tiro dado por um psicótico, que acusou os Warriors de serem os responsáveis pelo disparo. No tumulto, os Warriors conseguem fugir – e a perseguição e o filme propriamente dito têm início.
É certo que a união entre facções criminosas, que dominam espaços e negócios, é sempre improvável, mas não é impossível, embora a carga de ódio entre elas seja um elemento difícil de ser superado. Poder (econômico e político) não se divide, mas, em certas circunstâncias, a unidade entre facções torna-se necessária e mesmo imprescindível. A aliança entre o Comando Vermelho e a Família do Norte (em luta contra o Primeiro Comando da Capital) é exemplo disso.
O instinto de sobrevivência e a busca de força exigem a união de facções antes rivais ou inimigas. Diante da força policial, a dispersão da bandidagem em facções rivais apenas as enfraquece, levando-as a derrotas contínuas e poucas vitórias. Essa era a mensagem do líder diante de representantes das gangues nova-iorquinas.
Agora, imaginem, por hipótese, uma aliança entre o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV), Família do Norte (FDN), Amigos dos Amigos (ADA), Primeiro Grupo Catarinense (PGC), Sindicato do Crime (SDC – Rio Grande do Norte), Bonde dos 40 (Maranhão), Okaida (Paraíba) entre outras organizações criminosas espalhadas pelo Brasil, que dominam o mercado das drogas e armas. Imaginem se elas resolvessem atuar em conjunto, pondo fim, mesmo temporariamente, à rivalidade e guerra entre elas.
O PCC, por exemplo, está presente em todos os estados brasileiros e faz negócios na Bolívia, Colômbia, Argentina, Venezuela, Paraguai, Peru, Chile e Guiana Francesa. Se fosse uma empresa (não é empresa, mas é um negócio capitalista, regido pela lei do valor), o PCC teria a envergadura de uma multinacional. As estimativas informam que só a citada facção fatura mais de R$ 200 milhões por ano. O tráfico de drogas no Brasil, segundo a revista Época, movimenta bilhões de reais anualmente.
O CV controla o crime no Rio de Janeiro – e possui braços nas regiões Norte e Nordeste e bases no Paraguai, na Colômbia, Bolívia, no Peru e na Venezuela. A FDN é aliada do CV e as duas dominam a rota de tráfico de drogas pelo Rio Solimões, oriundas da tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia, em Tabatinga. Em Manaus, as pichações em muros indicam a aliança: “FDN-CV”.
Depois dos acontecimentos nas penitenciárias de Manaus, Bela Vista e Natal, muito se tem publicado a respeito da violência e segurança no Brasil. As interpretações variam - o que talvez seja um sintoma de que estamos longe de entender a questão em sua totalidade. E olha que estamos falando apenas do mercado de drogas e contrabando de armas. Ontem, li uma reportagem sobre tráfico internacional de animais silvestres: só no Brasil, o giro anual desse negócio supera os nove bilhões de reais. Animais silvestres brasileiros são enviados para os grandes mercados mundiais: Europa, Estados Unidos e Japão. E o comércio de pessoas, mulheres e crianças que são levados para os mercados de prostituição europeu e americano? A criminalidade em escala mundial é um fenômeno que dá a ideia exata da crise civilizatória do planeta. Crise sem solução, diga-se.
Aos meus amigos sugiro a leitura de quatro livros essenciais: “Mac Máfia: crime sem fronteiras”, “O dono do morro: um homem e a batalha pelo Rio”, ambos de Misha Glenny; “Os senhores do crime: as novas máfias contra a democracia”, de Jean Ziegler; “Violência”, de Slavoj Zizek.
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