O mundo despediu-se de fato do século XX com a morte de Fidel Castro. Por aqui, em matéria de maus costumes políticos, o século passado ainda suspira e ameaça abortar o que se anuncia.
Temer respondeu, sem alongar-se sobre o assunto: “Criminalização do caixa dois é decisão do Congresso e não posso interferir. Se eu disser uma coisa ou outra vão dizer que eu estou defendendo”.
Os defensores do projeto – leia-se: a esmagadora maioria dos deputados – preferem chamá-lo de “criminalização do caixa dois”, como Temer chamou. Na verdade, trata-se de uma anistia em causa própria.
Porque se virar lei, anistiará todos os que doaram ou se beneficiaram de dinheiro não declarado à Receita e à Justiça Eleitoral. Dinheiro sujo, portanto.
Em São Paulo, na última sexta-feira, Temer confidenciou ao líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), que não permitirá mais qualquer anistia.
Ontem à tarde, em Brasília, na companhia dos presidentes da Câmara e do Senado, Temer afirmou: “No caso da anistia, em dado momento viria para a presidência vetá-la ou não. É impossível sancionar matéria dessa natureza”.
Ora, ora, ora... Mudou Temer ou o Natal?
Temer mudou para sobreviver à crise política desatada com a revelação do depoimento prestado à Polícia Federal pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.
O que Temer classificara de “episódio menor”, meteu-se Palácio do Planalto adentro, subiu de elevador até o terceiro andar e arrombou a porta do gabinete presidencial. Ali, instalou-se e nem tão cedo sairá.
Calero disse à polícia que não foi só Geddel Vieira Lima, secretário do governo, que o pressionou para que recuasse no embargo à construção de um prédio de 30 andares em Salvador aonde ele comprara um apartamento.
Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, também pressionou. E, além dele, o próprio Temer. Geddel acabou perdendo o emprego. Temer tenta segurar o seu.
Por isso, deu o dito pelo não dito quanto à anistia do caixa dois e procura um novo secretário de governo com biografia impecável, à prova de futuras delações da Lava-Jato.
Certamente não o encontrará em suas vizinhanças. Temer está condenado a perder em breve para a Lava-Jato alguns dos seus auxiliares de maior confiança. Já perdeu quatro em seis meses. Continua impopular.
Este é o paradoxo Temer: a “ponte para o futuro”, pretensioso nome dado a documento do PMDB que saudou o povo e pediu passagem a uma nova ordem de coisas, é uma frágil pinguela.
Por enquanto, a nova ordem só tem a ver com uma gestão mais racional da economia em pandarecos. Em tudo o mais, é o antigo que ferido de morte esperneia para não sair de cena.
Qual é a saída? Fora da lei não há saída, não pode haver. Ela manda que Temer governe até 2018 quando se elegerá o novo presidente.
Faltam 33 dias para o fim do ano. No próximo, caberia ao Congresso escolher um substituto de Temer caso ele fosse impedido de completar o mandato.
Logo ao Congresso, depósito de todas as mazelas nacionais que se deseja varrer... E aí? Vai encarar?Ricardo Noblat
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