A passagem do tempo e as desgraças comprovadas que jorram quase todo santo dia das investigações de corrupção feitas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato estão transformando o ex-presidente Lula numa figura cada vez mais absurda. Já se sabe, há pelo menos uns dois anos, que ele está ficando menor a cada escândalo que estoura na sua vizinhança imediata. Também se sabe que sua idade aumenta, como a de todo mundo, mas sua biografia diminui. O que ele apresenta como “obra” vai caindo no esquecimento; o que se lembra, mais e mais, são histórias que parecem compor um prontuário policial. Lula tornou-se o presidente que mais recebeu dinheiro de empreiteiras de obras públicas na história deste país. Enfim, e na frente de todo mundo, vai sumindo velozmente o que ele parece ser — e vai aparecendo o que ele de fato é.
Nas últimas semanas, como numa vertigem, o ex-presidente se viu denunciado e tornou-se réu sob a acusação de ter praticado crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Os dois ministros da Fazenda que teve em seus oito anos de governo foram presos, também por suspeitas de assaltar o Erário. Está na cadeia há mais de um ano o maior empreiteiro de obras públicas do Brasil, com quem ele mantinha relações íntimas. Foram ou estão presos três tesoureiros do PT, um amigo pessoal que tinha, oficialmente, livre trânsito no Palácio do Planalto e altos diretores da Petrobras, com quem despachava diretamente. Sua mulher tornou-se ré junto com ele. Seus filhos estão sob investigação criminal. Sua própria liberdade física, enfim, depende da sentença de um juiz de direito do Estado do Paraná. É um desastre — e no meio dele Lula pretende convencer o Brasil e o mundo de que é um herói. Está conseguindo ser apenas incompreensível.
Como seria possível compreender alguma coisa, realmente, no meio de tudo o que Lula anda dizendo? O ex-presidente insiste em exigir que as pessoas acreditem na seguinte enormidade: que, com todas as denúncias, prisões, confissões, condenações, provas e fatos apresentados acima, ele não tem culpa por nada, absolutamente nada, do que aconteceu em matéria de corrupção no Brasil ao longo dos últimos treze anos. Para ficar só na Lava Jato e no quintal da Petrobras, e só nos primeiros dois anos da operação, completados em março, já houve mais de sessenta acordos que resultaram em confissão de crimes, mais de 100 sentenças de condenação, mais de 1 000 anos somados de penas de prisão e quase 3 bilhões de reais de dinheiro roubado que foram recuperados para os cofres públicos; os procuradores da República pedem que seja devolvido um total superior a 20 bilhões de reais.
Lula não diz uma palavra sobre esses números — repete, o tempo todo, que é o homem “mais inocente” do Brasil. Da mesma forma, não admite a mínima responsabilidade pela destruição da Petrobras durante o seu governo, e durante o da sua sucessora. Que lógica pode haver nisso aí?
A verdade, em toda essa cordilheira de misérias, é que Lula vem com a moral antes de contar a fábula. A moral que ele apresenta é algo mais ou menos assim: “No Brasil, um homem que quer governar para os pobres, como o Lula, acaba sendo processado na Justiça”. E a fábula que levaria a essa moral? Ele não conta; ninguém conta. Tudo o que o ex-presidente e seus admiradores têm é uma teoria. Segundo ela, os ricos brasileiros detestam os pobres, por alguma tara patológica; não toleram, sequer, que viajem de avião. Como Lula governa só fazendo o bem para os pobres, a começar pelas viagens de avião, os ricos precisam destruir a sua carreira política. Primeiro derrubaram sua sucessora na Presidência, para que ficasse desmoralizado, e agora querem que ele seja condenado e preso, para que não possa disputar e ganhar as eleições de 2018. Como chamar de “defesa” uma salada dessas? Lula quer ser reconhecido como o campeão dos pobres quando ninguém, em seus dois governos, ganhou como os milionários — sobretudo os odiados “rentistas”, que tanto amam a dívida pública criada por seu “projeto social”. Ameaça jogar o povo contra quem não concorda com ele — e na última manifestação de rua a que compareceu havia menos de 500 pessoas. Apresenta-se como uma força eleitoral invencível — e na mais importante das eleições municipais, a de São Paulo, vê o candidato que escolheu como seu pior inimigo pular do último para o primeiro lugar nas pesquisas em apenas trinta dias. Diz que até ele chegar à Presidência, em 2003, o Brasil vivia no século XVIII — e por aí vamos.
Lula deixou de fazer nexo.
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