quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Viva o estresse!

“Doutor, queria que o senhor acabasse com meu estresse.” Anos e anos, o doutor Rodrigo escutou essa frase de seus clientes. Com seu jeito lúdico, tratava de colocar ordem na casa: “Minha cara, infelizmente, não tenho autorização divina para essa ação e devo esclarecer que o estresse é a maior criação da natureza”, respondeu. E, com a paciência que anda faltando a muitos médicos por aí, ele explicava que graças ao mecanismo do “estresse” e sua sofisticação a partir dos mamíferos, que a essa reação se somou às emoções que esses dominaram a Terra. Para exemplificar, traz a melhor tradução para essa reação natural e fisiológica: quando em situações de risco absoluto – durante um assalto, quando um pit bull sai correndo atrás, ou um carro derrapa na pista – bem-vindo o estresse, que em milésimos de segundo nos deixa dez vezes mais rápidos, ágeis e inteligentes para lutar ou correr!

... algo em mim se perdeu alma que foi e não sei pra onde tão fora de mim tão fora de si não sei mais quem sou porque todo esse movimento nem é para ou pra fora é um sacudir-se para ver se encaixa no lugar. Não há espaço pra esse desgosto Nem um rosto com tanto desconforto só um ai perdido no peito um tique caído e nervoso um querer que já foi desmedido hoje é partido trêmulo e exposto. é o que poderia e nunca será uma dor que não cessa de machucar um fim que nunca chega um começo que se esq...:
O coração dispara para melhorar a circulação, a pressão arterial se eleva, a respiração aumenta para oxigenar o sangue, ficamos pálidos, pois o sangue vai para os músculos, o suor aumenta e até expressões antigas como “cagar” ou “mijar de medo”, ganha sentido já que ao se imaginar uma girafa fugindo de leões, abrir a cloaca para eliminar 30 kg de fezes ou relaxar o esfíncter para liberar 15 litros de urina, pode significar viver ou morrer para ela. Ou ainda ficar de orelha em pé pode aumentar a vigília para as zebras monitorando o movimento das hienas, bem como abrir as narinas para captar o feromônio da agressividade do predador.

Portanto, viva o estresse! Medo, angústia, amor aos filhotes, raiva e ansiedade aprimoraram o estresse dos que amamentam suas crias. A grande diferença entre o mamífero ser humano e os outros é algo de uma simplicidade franciscana. Após o susto, a correria, o aceleramento do leão que perseguiu o bando de zebras conseguindo ou não sua caça, o bando retorna para a beirada do lago e volta a comer seu mato tranquilamente. As narinas se fecham, a orelha abaixa, o coração normaliza, suaviza a respiração, pressão, ok! E os leões, hienas, leopardos voltam ao seu covil a 1.000 m dali. Sim meus amigos, o dr. Rodrigo após pedir um aplauso ao bom estresse, completava: “Se um pit bull vier atrás de vocês peçam que o sistema de estresse seja eficaz! Mas, e depois? O certo é que o mesmo estado alterado que muda minhas funções físicas e nos acelera logo após o perigo passar nos faz voltar a um estado de relaxamento. Escutaram bem? Re-la-xa-men-toooooo!".

E, nessa hora, o dr. Rodrigo falava em alto e bom som, acrescentando: “Nunca se esqueçam que o relaxamento é o passaporte para o prazer, alegria, satisfação!” E, para desespero dos ouvintes, completava: “Coitados dos preocupados, dos que sofrem por antecipação, dos que preocupam com julgamento alheio, têm ciúmes e criam seus filmes mentais, dos que são ressentidos, têm raiva, revolta e inveja entre outros tantos sentimentos negativos. Afinal, esses criam predadores e inimigos imaginários, são escravos de um futuro de ideia de ruína, preocupados, ou são reféns do passado angustiante que não mudará.”

Que saudades das aulas do meu antigo professor Rodrigo, que ensinava sobre o bom e o mal estresse. Que somos o único mamífero que temos estresse crônico, pois desaprendemos a relaxar naturalmente. Que não temos mais o tempo presente, pois no nosso tempo psicológico e diante da atual máxima em que pensar é igual a agir, o cérebro responde igualmente ao imaginário, ao que sonhamos, e aquilo que efetivamente fazemos. Assim, a realidade é aquela que construímos.

Se uma mãe fica até de madrugada esperando o filho da balada e imagina que teve acidente de carro ou está usando drogas, tais conteúdos são processados como uma realidade. Assim, o coração de mãe sofre objetivamente descargas de adrenalina, serotonina, que irão acelerar o coração. A pressão aumenta, vem insônia, diversos desconfortos físicos e psíquicos. Que pena, pois ao recusarmos a entender esse incrível mecanismo do sistema límbico do nosso cérebro, somos ótimos para disparar o estresse, criando predadores imaginários e péssimos para entender que Deus nos criou para a alegria, prazer, satisfação, recompensa maior para todos que a cada dia acordamos para lutar pela sobrevivência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário