De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu.
Lula participou de um ato político no Crato, no Ceará. Em discurso a militantes petistas, ele se referiu ao processo em que se tornou réu na Lava Jato dizendo que “eles estão com medo de que o Lula volte à Presidência”. Afirmou também que há exatamente dois anos “uns jovens do Ministério Público, do Judiciário e da Fazenda” o investigam. Segundo o “companheiro”, “quem não pode falar bem de si fala mal dos outros”. Em outro momento, o ex-presidente voltou a repetir que, se encontrarem um centavo roubado por ele, pedirá desculpas publicamente. Para Lula, no entanto, se não encontrarem, ele quer que eles “tenham a mesma dignidade e peçam desculpas por desonrar um homem que teve a ousadia de tirar o povo do século 18″.
Que coisa! Houve um tempo em que essa bobajada parecia Schopenhauer a certos ouvidos, não é mesmo? É muito interessante este método: “Se encontrarem um centavo roubado…”. Bem, a força-tarefa julga ter encontrado bem mais do que isso, não é mesmo? Só da OAS, ela aponta R$ 3.738.738. Sim, as provas terão de ser apresentadas. Chamo a atenção para o fato de que Lula se coloca ele próprio como o único juiz capaz de julgá-lo. Ora, é evidente que, segundo seus critérios, ele é o homem mais honesto do mundo.
A conclusão de sua frase já diz bem segundo quais olhos e quais crivos ele gostaria de ser julgado: aquele que tirou os brasileiros do século 18… É mesmo? Que coisa! O Brasil só chegou ao século 21 na economia da informação, por exemplo, porque houve o ciclo de privatizações do governo FHC, ao qual o PT e Lula se opuseram. Ou estaríamos condenados à primeira metade do século 20. Acorda, Carolina! Ninguém mais cai nessa conversa.
Ah, sim: no Ceará, ele disse só respeitar presidente da República eleito pelo voto. É mesmo? Foi por isso que ele se fez um dos líderes da queda de Collor? Mais ainda: ele reconhece ou não a Constituição?
Lula, é evidente!, se disse indignado com o recebimento, pelo juiz Sergio Moro, da denúncia criminal contra ele e classificou como “farsa” e “grande mentira” a acusação feita pela força-tarefa da Lava Jato. A manifestação se deu em uma transmissão via Skype para um ato de apoio ao petista, organizado em Nova York pela CUT e alguns sindicatos americanos. No vídeo, o ex-presidente afirmou que, “no Brasil, nesse instante, o que menos importa é a verdade”.
Segundo o chefão petista, o que está estampado nas manchetes dos jornais é uma versão manipulada dos fatos, o que pode levar à condenação, pela opinião pública, de uma pessoa inocente. Sua defesa reagiu ao recebimento da denúncia contra o petista com ataques ao juiz, apontado como parcial pelos advogados. Em nota, Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira afirmam que “não causa surpresa” a decisão “diante de todo o histórico de perseguição e violação às garantias fundamentais pelo juiz de Curitiba em relação ao ex-presidente”.
O que vou dizer? O papel da defesa é, afinal, defender. Já afirmei aqui que, em termos estritamente técnicos, considero equivocada essa linha, que me parece ser ditada pelo desespero de quem não vê meios de enfrentar a acusação. Atacar o juiz pode fazer algum sucesso entre o público de esquerda e em alguns nichos ditos “progressistas” mundo afora, mas não resolve o problema de Lula.
Até as eventuais falhas da acusação se perdem nessa gritaria meio histérica, destinada, parece-me, originalmente, a criar uma grande mobilização popular. Que, no entanto, esqueceu-se de acontecer.
Acorda, Carolina! O tempo passou na janela.
Ninguém mais acredita em Bicho Papão. O que pode haver pela frente é o Bicho Papuda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário