segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Foco na cidade

A deterioração mental e moral dos políticos profissionais desse país pode condenar as eleições municipais a serem palco de todo tipo de acusações pessoais – onde o que menos se vai discutir é o que realmente importa: as cidades brasileiras.

Teremos uma espécie de concurso para eleger o menos corrupto. E a proibição de que Erundina, Freixo e Young participem dos debates, vai piorar tudo.

Vivemos hoje a maior crise urbana de nossa história. Mas nossos governantes, regra geral, estão simplesmente dando as costas ao encalacro em que nos encontramos. Prefeituras à parte, o Ministério das Cidades nos dá um retrato acabado do desprezo oficial pelo assunto.

Única real novidade administrativa do PT, o Ministério foi criado em resposta a demandas sociais. Mas logo se deu a sua precoce e completa desfiguração, no segundo mandato de Lula.

O cara precisava reforçar seu pelotão no Congresso, depois que estourou o mensalão. Em troca de votos, ofereceu a Severino Cavalcanti – deplorável deputado pernambucano, sujeito do “baixo clero” mais rasteiramente ignorante e corrupto – o Ministério da Previdência.

Severino bateu pé firme. Só toparia o jogo sujo proposto por Lula se ficasse com o Ministério das Cidades. Lula então retirou Olívio Dutra do cargo e entregou “a pasta” à gangue de Severino. Com isso, o Ministério renunciou vergonhosamente à sua missão de formular e coordenar uma estratégia nacional de recuperação, viabilização e avanço ecossocial de nossas cidades.

E Dilma Rousseff, que acaba de transformar a bela capela do Alvorada em escritório, não reconduziu o Ministério ao seu leito original. Pelo contrário: jogou no lixo o compromisso assumido, já na campanha de 2010, com a promoção de uma grande reforma urbana nacional.

Daí em diante, Dilma manteve o Ministério das Cidades como espaço de corrupção e podridão política. E o interino Temer parece simplesmente não ter consciência da supercrise que atravessamos, com cidades sujas, poluídas, congestionadas, ampliando o abismo das desigualdades sociais.

Por aí se vê que é a sociedade, são os movimentos ativistas, que têm de ir para a linha de frente. O Brasil, mais uma vez, se vê obrigado a acontecer à revelia do Estado e apesar de seus políticos. Movimentos urbanos têm de forçar passagem.

Por isso mesmo, para caminhar com lucidez, é bom que os ativistas não se esqueçam da advertência de John Dewar, o inventor da garrafa térmica: nossas mentes são como paraquedas – só funcionam quando estão abertas.

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