quinta-feira, 9 de junho de 2016

'Se gostasse tanto de mim, ela não tinha me sacaneado'



A presidente afastada Dilma Rousseff, em meados do ano passado, irritada com vazamentos considerados seletivos por ela, e confundindo alhos com bugalhos, como tem feito desde sempre, afirmou à imprensa: “Não respeito delatores!”. Primeiro se referia a ela, que foi presa, mas, coração valente que é, não “entregou” nenhum de seus companheiros.

O irritado desabafo foi o modo que encontrou para dizer à Lava Jato que nada temia porque nada devia. Naquela época, achava-se muito longe de qualquer suspeita. Agora, um ano depois, ao tomar conhecimento dos termos da delação do ex-senador Sérgio Machado, que foi presidente da Transpetro por 13 anos, e fingindo-se alheia ao rolo compressor que se forma contra ela, Dilma suspirou e, em seguida, se sentiu aliviada com as acusações contra o ex-presidente José Sarney e os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, todos do PMDB.

O primeiro teria recebido (da Petrobras) R$ 30 milhões, o segundo e o terceiro, R$ 20 milhões cada. Diante disso, a avançada e perigosa paranoia que alimenta em torno de sua volta à Presidência da República, coisa que jamais se realizará (segundo pessoas próximas, ela só pensa nela e nela), tornou-se aguda, um caso médico.

Todavia, instantes depois – a velocidade dos fatos na operação Lava Jato me faz usar o adjetivo –, surgiram vazamentos da delação de Marcelo Odebrecht, o maior, em potencial, de todos os delatores. Marcelo ainda terá, para atazanar a vida da presidente afastada, a ajuda de 40 ou mais executivos da empreiteira que preside.

Mas não foi só isso. Ato contínuo, a metralhadora ponto 100 – expressão do ex-presidente Sarney – foi acionada, e veio à tona o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que admitia gozar, com o filho, da amizade dela: “Se Dilma gostasse tanto de mim”, disse Cerveró, em sua delação premiada, “ela não me tinha sacaneado, desculpe-me a expressão, há dois anos, quando fugiu da responsabilidade dizendo que tinha aprovado Pasadena porque eu não tinha dado as informações completas. Ela me jogou no fogo, ignorou a condição de amizade, que eu achava que existia – trabalhei com ela por 15 anos –, e preferiu, para se livrar, porque estava em época de eleição, e tinha que arrumar um cristo: ‘Ah, não! Eu fui enganada’. É mentira! Dilma sabia de tudo o tempo todo”.

É evidente, leitor, que, com o andar da carruagem da Lava Jato, outras cabeças rolarão, de todos os partidos. Isso trará, com certeza, riscos ao sistema político brasileiro, que, segundo o jornalista Fernando Gabeira, “precisa implodir, mas, ao mesmo tempo, não pode implodir: estamos numa profunda crise econômica, e ele é essencial à travessia. Essa urgência na economia acaba impondo atraso na política”.

Anteontem, dia aziago para todos os políticos, antes de concluir estas linhas, ficamos cientes de que quatro cabeças coroadas podem ser presas, se o STF acatar o pedido do procurador geral da República, Rodrigo Janot. A acusação é a de que tentaram obstruir a Justiça. Mas não fizeram coisa idêntica a presidente afastada e o ex-presidente Lula? E o ex-ministro de ambos Aloizio Mercadante não fez o mesmo? Ou o pau que dá em Francisco não tem que dar em Chico?

Lutar para recolocar o gigante de pé, entre mortos e feridos, não é fácil. Isso poderá dar certo, segundo Fernando Gabeira, por meio, “prioritariamente, da reconstrução dos caminhos da economia”.

Haja, em Brasília, estoque de remédios para insônia!

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